Os novos ensaios científicos custariam à Pfizer 80 milhões de dólares (71 milhões de euros), para testar a hipótese em milhares de pacientes. Mas a empresa optou por "esconder" os testes clínicos.
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A farmacêutica Pfizer confirmou ao Washington Post que tinha uma solução para prevenir a doença de Alzheimer mas nunca avançou por causa do preço. Os testes clínicos custariam à empresa 80 milhões de dólares.
A fórmula de atenuação de riscos de desenvolver Alzheimer reside, de acordo com uma investigação da empresa Pfizer, num medicamento anti-inflamatório para a artrite reumatoide da Enbrel. Poderá, então, comprovar-se a hipótese de terapia combinada, já que o antídoto obteve os resultados surpreendentes de diminuição - calculada em 64% - das hipóteses de vir a ter Alzheimer.
Foi em 2015 que a análise de milhares de pedidos de seguro resultou nestes dados promissores para um novo apuramento científico. Mas ficaram pontas soltas nesta nova linha de investigação, logo abandonada pelas avultadas quantias necessárias para avançar para testes clínicos. Mais ainda, a Pfizer optou mesmo por esconder esta possibilidade medicinal, e confirmou-o ao The Washington Post, a publicação norte-americana que divulgou a notícia.
Os novos ensaios científicos custariam à Pfizer 80 milhões de dólares (71 milhões de euros), para testar a hipótese em milhares de pacientes, conforme reporta um documento interno da empresa obtido peloThe Washington Post.
O Enbrel poderia ajudar a prevenir, tratar ou retardar a progressão do Alzheimer, de acordo com uma apresentação em PowerPoint preparada em 2018 para ser comunicada perante um comité interno da Pfizer.
No entanto, a empresa afirmou que os três anos de revisões internas não demonstraram que o Enbrel fosse promissor para efeitos de ação preventiva, na medida em que a fórmula não atinge diretamente o tecido cerebral. Assim, a Pfizer não prosseguiu com o ensaio clínico por ter considerado que o sucesso seria baixo e que os "rigorosos padrões científicos" não iriam ser atendidos.
As decisões da Pfizer, mantidas até agora em segredo, oferecem uma rara janela para a longa busca por tratamentos do Alzheimer, dentro de uma das maiores empresas farmacêuticas do mundo. Apesar dos mil milhões gastos em estudos, o Alzheimer continua a ser uma doença com elevada prevalência, sem prevenção ou tratamento efetivo.
Alguns cientistas externos à farmacêutica discordam da avaliação da Pfizer. Muitos investigadores das áreas da saúde mental acreditam que houve pistas importantes para combater a doença e retardar o declínio cognitivo a ser negligenciadas. Além disso, Keenan Walker, professor assistente de medicina da Johns Hopkins, e Rudolph E. Tanzi, um dos principais professores da Harvard Medical School e do Massachusetts General Hospital, consideram que a multinacional nunca deveria ter ocultado esta possibilidade da comunidade científica.
Quando as discussões sobre o medicamento Enbrel foram concluídas no início de 2018, a Pfizer abandonou a investigação sobre o Alzheimer. Em janeiro de 2018, a empresa anunciou o encerramento do departamento de neurologia, onde os tratamentos para a patologia foram testados, o que culminou também com o despedimento de 300 funcionários.