Pode afetar o cérebro e é altamente mortal. Fungo raro atinge doentes com Covid-19 na Índia
Doentes com Covid-19 estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de mucormicose, uma doença causada por um fungo que pode atingir órgãos como o cérebro e os pulmões.
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Um fungo raro, que afeta órgãos como o cérebro, está aparecer em pacientes com Covid-19 na Índia. Até ao momento, foram registados cerca de 300 casos só em quatro cidades da região de Gujarat, no oeste do país.
A doença em causa chama-se mucormicose e atinge pacientes severamente imunodeprimidos, tendo um alta taxa de mortalidade.
A enfermidade é causa por estes fungos - mucormicetes -, que são bolores que existem naturalmente no ambiente em que vivemos, seja na terra ou em plantas. Normalmente, o bolor é inalado, só que, apesar de a maioria das pessoas conseguir defender-se dos fungos, aquelas que têm sistemas imunitários mais debilitados - desde doentes transplantados, com leucemia, até diabéticos, entre outros - podem não conseguir fazê-lo e desenvolver uma infeção.
"Este tipo de fungos entram pelos seis da face e, uma vez lá depositados, podem chegar ao cérebro, se o sistema imunitário não os conseguir combater", explica Peter Collignon, especialista do comité de resistência a antibióticos e doenças infecciosas da Organização Mundial de Saúde (OMS), em declarações ao The Guardian.
Além do cérebro, o fungo pode afetar outras partes do corpo, como os olhos, os pulmões e o aparelho gastrointestinal.
Os sintomas podem ser desde dores e inflamação junto dos olhos e do nariz a febre, dores de cabeça, tosse, vómito com sangue, dores de doentes ou visão turva.
A doença pode ser transmitida por via hospitalar - através da roupa de cama ou dos sistemas de ventilação, por exemplo -, o que acontece geralmente em doentes vulneráveis.
A pandemia de Covid-19 veio, por isso, criar as condições ideais para o desenvolvimento deste tipo infeções, com os sistemas imunitários dos doentes a serem atacados pelo coronavírus.
A situação pode até ser agravada pela medicação que os doentes com Covid-19 recebem. "Damos esteroides a doentes com Covid-19 que estão nos cuidados intensivos, uma vez que os esteroides ajudam a tratar a inflamação, mas, infelizmente, estes também enfraquecem o sistema imunitário", refere Peter Collignon. "A capacidade de combater outras infeções e fungos fica comprometida."
Com o sistema de saúde indiano em colapso, e os hospitais sobrelotados, os fungos têm ainda maior capacidade de se espalharem.
Peter Collignon explica que os doentes com sistemas imunitários fracos devem ser colocados em câmaras de pressão, para que o ar circule e assim haja menos hipóteses de uma infeção pelo fungo, mas, naturalmente, não se deve colocar os doentes com Covid-19 nestes espaços, sob pena de espalhar o vírus, e esta condicionante torna mais difícil prevenir a mucormicose.
Segundo o especialista, é mesmo necessária intervenção cirúrgica para limpar totalmente o fungo do organismo - o que se trata de um procedimento particularmente delicado se o local onde o bolor se tiver desenvolvido for o cérebro.
Esta é, portanto, uma infeção difícil de tratar, com a Organização Mundial de Saúde a falar numa taxa de mortalidade superior a 50% entre as pessoas que a desenvolvem.
O Conselho de Investigação Médica e o Ministério da Saúde indianos já vieram divulgaram uma nota a apelar à população para que use sapatos, calças e camisolas de mangas compridas e luvas, quando tiver de mexer em terra, musgo ou adubos; que mantenha cuidados pessoais de higiene; que mantenha os níveis da diabete controlados e, aos, profissionais de saúde, que deixem de administrar esteroides aos pacientes sempre que possível.
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