O medo de ataques terroristas e a crise dos refugiados está a levar muitos governos ocidentais a cortar nos direitos humanos. Conclusão da Human Rights Watch no relatório anual de 2016, apresentado na Turquia.
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Num relatório com mais de 650 páginas, a organização de defesa dos direitos humanos analisa a situação em mais de 90 países durante o ano de 2015.
Na introdução, o diretor-executivo escreve que "o alargamento dos ataques terroristas para lá do Médio Oriente, bem como o enorme fluxo de refugiados", resultado de guerras e outros conflitos, está a levar muitos governos a "limitar os direitos, em esforços errados para proteger a segurança".
São "passos atrás que ameaçam os direitos de todos por igual, sem que fique demonstrado o sucesso na proteção do cidadão comum", escreve Kenneth Roth.
A Human Rights Watch avisa que, ao impor restrições nas fronteiras, os governos europeus estão a fazer "renascer padrões antigos". E, ao atirar o problema para os países periféricos, "menos preparados" para acolher os refugiados, estão a "fugir às responsabilidades".
Além disso, ao "colocar o ênfase numa potencial ameaça representada" por quem foge à guerra, nomeadamente, na Síria, "distraem-se das ameaças terroristas internas" e não dão os "passos necessários para evitar a marginalização social da população descontente".
Afirma esta organização, com sede em Nova Iorque, que, além de errada em si mesma, esta é também uma estratégia "perigosa": "atacar a reputação de comunidades inteiras por causa dos atos de uns quantos, gera precisamente o tipo de divisão e animosidade, de caos, que o terrorismo gosta e sabe explorar".
Por isso, a Human Rights Watch considera que a resposta europeia à crise dos refugiados é "contraproducente": "criar uma forma segura e ordenada de garantir que chegam à Europa, permitiria reduzir o número de vidas perdidas no mar, ao mesmo tempo que ajudaria as autoridades responsáveis pela imigração a escrutinar melhor os riscos, aumentando a segurança de todos".
Liberdade de expressão com "severas restrições" em Angola
O relatório da Human Rights Watch não passa ao lado da situação em Angola. Na página 66, pode ler-se que a liberdade de expressão continuou, em 2015, a sofrer "severas limitações devido à repressão do governo, à censura e à autocensura nos meios de comunicação estatais e privados, controlados por elementos do partido" no Poder.
O documento continua: "o governo continua a usar, com regularidade, leis criminais sobre difamação e outras leis abusivas para silenciar jornalistas".
Mais à frente, a HRW cita os casos de Rafael Marques, "questionado pelos serviços secretos sobre o conteúdo e a origem de artigos" publicados no seu site na internet; e de Luaty Beirão, detido em junho de 2015, em conjunto com outros 14 "proeminentes ativistas, presos na capital, Luanda, depois de um encontro onde leram e discutiram livros sobre métodos de protestos não-violentos".