O presidente turco quer normalizar relações com a UE e Erdogan sugere uma cimeira. Augusto Santos Silva defende na TSF uma "agenda positiva com a Turquia". Mas espera passos concretos de Ancara.
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O presidente turco quer normalizar as relações com a União Europeia e a presidência portuguesa defende uma agenda positiva entre a Turquia e o bloco europeu. Tayyp Erdogan propõe o final de março (25 e 26) para uma cimeira conjunta.
A política externa europeia depende do Alto Representante e do Conselho Europeu, mas Augusto Santos Silva, ouvido pela TSF, garante que Portugal tudo vai fazer para que seja possível esse bom relacionamento entre Ancara e os 27.
Mas, avança o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, é preciso que a Turquia dê passos nesse sentido: "do ponto de vista da presidência rotativa e no quadro das nossas responsabilidades, tudo faremos para que haja uma agenda positiva no relacionamento entre a UE e a Turquia".
Na perspetiva da presidência portuguesa, de acordo com Augusto Santos Silva, "isso implica que a Turquia deve terminar com todos os atos que desafiam as regras vigentes do direito internacional, que deve cessar todas as provocações dirigidas contra Estados membros da UE e deve trabalhar connosco nas diferentes dimensões do agendamento bilateral".
O chefe da diplomacia portuguesa faz referência a questões que vão "desde as condições de estabilidade no Mediterrâneo Oriental, às questões do respeito pelo direito internacional dos mares, às questões da gestão dos fluxos migratórios e também no apoio do acolhimento de refugiados, bem como às questões que se prendem com a posição da Turquia como país candidato à UE".
O Ministro dos Negócios Estrangeiros destaca também os progressos que têm acontecido nas últimas semanas: "foi muito importante que Grécia e Turquia pudessem retomar conversações ao nível diplomático, que estavam, aliás, suspensas desde 2016; foi muito importante que a Turquia se tivesse abstido de realizar missões com navios de exploração de recursos gasíferos em águas disputadas." Santos Silva considera que foi igualmente "muito importante que o presidente Erdogan e o MNE da Turquia tivessem palavras que representam uma de-escalada ou uma contenção num conflito verbal que não aproveitava a ninguém, agora nós precisamos de gestos e de passos mais concretos".
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, garantiu hoje estar "determinado" a normalizar as relações com o bloco comunitário, mostrando interesse numa cimeira entre as duas partes durante a presidência portuguesa do Conselho da UE, reiterando "o seu desejo de que seja organizada uma cimeira Turquia-UE antes do fim da presidência portuguesa", como se pode ler num comunicado do chefe de Estado turco, citado pela agência AFP, depois de uma reunião remota entre Erdogan e a chanceler alemã, Angela Merkel.
O Conselho Europeu de março discutirá as relações com a Turquia e vai apreciar um relatório do Alto Representante para a política externa, Josep Borrell. Numa altura em que passam cinco anos sobre o acordo que a Comissão Europeia fez com a Turquia relativamente aos refugiados sírios, acordo que os críticos consideraram um cheque ao governo de Erdogan para reter em território turco os muitos milhares que pretendiam chegar à UE, mas que tem servido para "apoiar organizações não-governamentais no seu esforço de acolhimento de refugiados e migrantes na Turquia", o ministro português reconhece que o que está em causa "é uma agenda complexa, mas importante, quer do ponto de vista europeum, quer, julgo, do ponto de vista turco". Santos Silva confirma à TSF que a UE pretende falar com a Turquia sobre o papel que tem desempenhado no conflito líbio (país agora com novo governo e após apelo europeu à não ingerência de países terceiros), "mas também no Cáucaso, mas também aí porque o papel da Turquia é importante, desde que se guie pelos princípios de uma ordem internacional baseada em regras".
O governante português confirma que Portugal tem tempre boas relações com a Turquia, sendo que Portugal está "solidário com os Estados membros da UE que foram, no passado recente, vítimas de atos que nos parecem provocatórios e contrários ao direito internacional perpetrados ou ameaçados pela Turquia, e isso diz respeito sobretudo à nossa solidariedade com a República do Chipre e com a Grécia, e temos do ponto de vista do nosso trabalho político-diplomático, temos tomado iniciativas no sentido de podermos chegar todos ao que chamei de agenda positiva no relacionamento entre a UE e a Turquia".