Portugal "tem tido papel influente" perante "maiores potências" nos "mais sérios desafios à humanidade"
Numa altura em que parece reinar uma "sensação de impunidade, em que as grandes, mas também médias e pequenas potências podem fazer o que quiserem, sem qualquer consequência", Guterres sublinha a urgência de "marcar a importância do respeito pelo direito internacional"
Corpo do artigo
O secretário-geral da ONU assinalou esta quarta-feira que foi em Portugal que recebeu "o primeiro raio de luz de esperança em relação à paz no meio da escuridão dos últimos meses", numa referência ao cessar-fogo acordado entre Israel e o Hezbollah. António Guterres destaca igualmente o "papel influente" do Estado português, reconhecido "mesmo pelas maiores potências".
"Eu tive ontem [terça-feira] um sinal auspicioso, eu diria o primeiro raio de luz de esperança em relação à paz no meio da escuridão dos últimos meses e recebi-o em Portugal e foi o acordo de cessar-fogo no Líbano. É um momento de grande importância para os civis que pagavam um preço enorme pelo facto de este conflito se estar a arrastar e a ganhar dimensões cada vez mais preocupantes", afirmou, em declarações aos jornalistas.
O líder da ONU vinca, contudo, que é "essencial" que aqueles que assinaram o compromisso para um cessar-fogo "o respeitem integralmente", permitindo uma abertura à "solução da crise libanesa". Garante ainda que as forças de manutenção da paz da ONU "estão preparadas para dar o seu contributo na verificação deste cessar-fogo".
Depois de ter estado reunido com o primeiro-ministro, o líder da ONU começa o seu discurso aos jornalistas por expressar "profunda gratidão" pela contribuição "exemplar" de Portugal para o funcionamento das Nações Unidas.
António Guterres reconhece que o mundo vive uma "situação paradoxal", já que "nunca foram tão sérios os desafios que se impõem à humanidade". E enumera: "A questão climática, a inteligência artificial que se desenvolve, sem o mínimo de controlo, à escala global e que pode ser uma ameaça existencial, as profundas desigualdades e injustiças e a multiplicação de conflitos."
Para o secretário-geral da ONU, as dificuldades em responder a estes desafios provam que as instituições internacionais estão "desatualizadas", tendo este sido o mote para a Cimeira do Futuro. E sublinha que essas mesmas instituições começam "nas Nações Unidas e no Conselho de Segurança".
Numa altura em que parece reinar uma "sensação de impunidade, em que as grandes, mas também médias e pequenas potências podem fazer o que quiserem, sem qualquer consequência", Guterres sublinha a urgência de "marcar a importância do respeito pelo direito internacional".
"Em todas estas batalhas, Portugal tem tido um papel ativo, mas mais do que um papel ativo, tem tido um papel influente e uma posição respeitada por todos os interlocutores, mesmo as maiores potências", destaca.
Considera por isso que o Estado português é visto como "país ponte, que aproxima os outros quando eles estão desavindos e um país que é dado como exemplo na defesa dos valores fundamentais da Carta das Nações Unidas".
Aponta igualmente a consensualidade dos elogios à presença das forças portuguesas na República Centro-Africana e o seu "papel decisivo para a consolidação das instituições do país", o que também lhes atribuiu um "extraordinário prestígio".