Portuguesa pode vencer câmara de Toronto em eleição com 102 candidatos (incluindo uma cadela)
Natural de Vila Franca de Xira, com 12 anos de experiência na autarquia canadiana e em segundo lugar nas sondagens, Ana Bailão diz sentir-se "muito bem acolhida" numa cidade em que "mais de 50% da população não nasceu no Canadá".
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A cidade canadiana de Toronto, com uma população de três milhões de pessoas, vai esta segunda-feira a votos e pode eleger uma portuguesa como presidente da câmara após o antigo autarca, John Tory, ter apresentado a demissão na sequência de um escândalo sexual com uma mulher de 31 anos durante a pandemia de Covid-19.
Agora, a sucessora pode ser Ana Bailão, natural de Vila Franca de Xira, foi para o Canadá com 15 anos e os cargos administrativos não lhe são estranhos: já foi vice-presidente da câmara e vereadora com a pasta da Habitação.
Em declarações à TSF, a candidata que surge em segundo lugar nas sondagens atrás de Olivia Chow, para quem tem vindo a encurtar distâncias, antecipa uma eleição "muito renhida", em que até Molly, uma cadela que protagoniza uma espécie de candidatura "a meias" com o dono, Toby Heaps, está na corrida com 102 candidatos.
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"Foi o dono do cão que se registou, obviamente a Câmara Municipal e os regulamentos não autorizam um cão a concorrer para presidente da Câmara, mas a pessoa que se registou disse que se estava a registar em nome de um cão", explica Ana Bailão, que defende que episódios como este "não deveriam acontecer, porque a democracia e o processo eleitoral são coisas bastante sérias", em especial naquela que é a quarta maior cidade do Norte da América e a maior do Canadá.
"É uma cidade com um orçamento operacional de 16 mil milhões de dólares, portanto acho que é uma coisa que tem de tomar-se muito a sério", algo que a própria garante fazer, apoiada na sua experiência de "12 anos como vereadora e vice-presidente".
Com a campanha a chegar ao fim, Ana Bailão tem "centenas de voluntários a ir de porta em porta", em especial porque no Canadá, como explica, até nas eleições para presidentes da câmara há "muita gente e muito contacto direto com o eleitor".
"Muito bem acolhida" que diz sentir-se na cidade "em que mais de 50% da população não nasceu no Canadá e que recebe pessoas de mais de 150 países", a portuguesa propõe-se também a conseguir algo inédito.
"Nós nunca tivemos um presidente da câmara que não fosse falante de língua inglesa. Temos muitas comunidades, mas os presidentes da câmara que tivemos têm sido todos mais anglo-saxónicos do que propriamente de outras comunidades", explica, e isso é algo que mudaria com a sua eleição.
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Experiente na área da Habitação, Ana Bailão mostra-se preocupada com uma cidade que "está a ficar extremamente cara para se viver" e em que um T2 pode custar três mil dólares canadianos (2076 euros) por mês.
"A cidade está a crescer muito e nós não estamos a produzir o número de habitações para acomodar esse crescimento", o que tem provocado uma falta de soluções e a escalada dos preços.
Para resolver o problema, Ana Bailão defende que se aumente a oferta de habitação, construindo "rapidamente", mas utilizando também "terrenos camarários e incentivos para baixar os preços dessas habitações". Os preços "tanto de casas para aquisição, como de rendas, têm aumentado significativamente e está a ficar uma cidade extremamente cara para se viver, o que impacta imenso a qualidade de vida e o futuro económico" de Toronto.
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Assim, contribuir para a resolução do problema é não só uma das "grandes prioridades" da candidata, mas também "uma das grandes razões para estar novamente a concorrer para voltar à câmara", desta vez como presidente.
Se ganhar, o primeiro passo não será tomar medidas especiais ou fazer anúncios: a prioridade, garante, será a família. "O que vou fazer é dar um abraço muito grande aos meus pais, porque eu sei que eles estão muito orgulhosos, mas obviamente também estão muito nervosos... Não é propriamente uma coisa que se espere, não é, quando se emigra para outro país ter a filha a concorrer para presidente da câmara".
Seja qual for o resultado, está-lhes prometido "um abraço muito grande".