"Precisamos de voltar a ter líderes como Mário Soares, mas adaptados às circunstâncias atuais"
Corpo do artigo
A importância de Mário Soares e da Internacional Socialista para a América Latina vai estar em debate, esta terça-feira, num colóquio, no Teatro Thália, em Lisboa, com organização do escritório em Lisboa da OEI (Organização dos Estados Iberoamericanos), dirigido por Ana Paula Laborinho e pela Fundação Mário Soares e Maria Barroso, presidida por Isabel Soares, filha do ex-Presidente da República e da atriz e fundadora do partido socialista.
O impacto da vida e obra do fundador e líder histórico do PS vai ser debatido também, no primeiro painel, por Bruno Figueroa, embaixador do México em Portugal e Vítor Ramalho, consultor da Casa Civil do Presidente da República (1986-1996). As reflexões sobre o papel da Internacional Socialista na região da América Latina serão o mote para a intervenção, por vídeo, do antigo presidente do governo espanhol (1982-1996) Felipe González, seguido do debate que junta a académica e professora Nancy Ferreira Gomes, João Torres (vice-presidente da Internacional Socialista), Bernd Rother, da Fundação Willy Brandt e Mariano Schuster, da Revista Nueva Sociedad, à qual Soares esteve ligado, como explicou à TSF o jornalista argentino:
“A importância de Mário Soares para a América Latina e para a revista Nueva Sociedad é capital. A Nueva Sociedad nasceu em 1972 na Costa Rica, sob o impulso da Fundação Friedrich Hebert. Mais tarde mudou-se para a Venezuela e depois para a Argentina. Mário Soares foi um dos seus primeiros membros do conselho editorial. Ainda antes de ser primeiro-ministro de Portugal, juntamente com outros dirigentes e líderes socialistas europeus e latino-americanos, promoveu uma perspetiva socialista, democrática e progressista que compreendia os assuntos ibero-americanos e compreendia também a unidade da hispânica e da lusofonia. E Mário Soares trouxe uma perspetiva social-democrata e progressista que compreendia os problemas dos países da América Latina, não só do Brasil lusófono, mas também de outros países.”
Nas suas várias visitas à América Latina, o político português encontrou-se com muitos líderes políticos que, nessa altura, nos anos 1970, lutavam pela liberdade e pela democracia na região: “Quando Portugal recuperou a liberdade com a Revolução dos Cravos, a América Latina estava a entrar em ditaduras. E o exemplo de Mário Soares, da sua luta e do seu empenho democrático foi fundamental para a América Latina e para a nossa revista, que, por exemplo, o entrevistou inúmeras vezes e chegou a publicar recensões e extratos do seu famoso livro Portugal Amordaçado”.
A esquerda progressista e social-democrata está hoje desprovida de grandes líderes como Mário Soares ou Willy Brandt? “Líderes dessa magnitude, dessa profundidade, fazem falta. A esquerda progressista, socialista, social-democrata e democrática sempre teve diferentes vertentes, diferentes sensibilidades. Uns mais à esquerda, outros um pouco mais liberais. Mas estes grandes líderes tornaram possível a união das tendências. Hoje em dia, precisamos de voltar a ter líderes assim, adaptados às circunstâncias atuais. Penso que a esquerda está a atravessar uma crise, mas tem também uma enorme oportunidade. Tem o desafio de repensar um novo capitalismo, o desafio de pensar como rearticular a justiça, a democracia e a igualdade. Sem dúvida, alguém como Mário Soares é um exemplo a seguir e continuará a ser um exemplo para muitos socialistas democráticos no mundo e na América Latina”, responde Mariano Schuster.
Nos painéis seguintes, o colóquio Mário Soares e a América Latina incidirá sobre Portugal e as Cimeiras Ibero-Americanas (com Paulo Neves do IPDAL, Raquel Patrício, docente do ISCSP e Cristina Manzano diretora de relações exteriores da SEGIB, Secretaria-Geral Ibero-Americana), as relações Europa-América Latina, com Filipe Vasconcelos Romão (docente da UAL e comentador político), Carlos Gaspar, ex-conselheiro de Mário Soares, fundador do IPRI e professor catedrático também da Universidade Autónoma, a embaixadora Ana Paula Zacarias (atual diretora do Instituto Diplomático), Andrés Malamud (investigador principal do ICS - Instituto de Estudos Sociais da Universidade de Lisboa) e Cátia Miriam Costa, investigadora do Centro de Estudos Internacionais -ISCTE.
As perspetivas futuras para a América Latina, a partir das 15h30, vão estar a cargo de Pedro Cordeiro, jornalista e editor de Internacional do jornal Expresso, Francisco Aldecoa, presidente do Conselho Federal Espanhol do Movimento Europeu, Cátedra Jean Monet, Ramón Jáuregui, presidente da Fundação Euroamérica e Carlos Quenan, vice-presidente do Institut des Amériques e docente IHEAL-Sorbonne Nouvelle, em Paris. O encerramento acontece às 16h30 com Bernardo Sepúlveda, secretário das Relações Externas do México (1982-1988).