Presidente do Kosovo anula deslocação aos EUA para encontro com homólogo da Sérvia
A Casa Branca deve acolher no sábado uma cimeira entre a Sérvia e o Kosovo para tentar relançar um diálogo que está bloqueado há mais de um ano.
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O Presidente do Kosovo, Hashim Thaçi, indiciado esta quarta-feira por crimes de guerra pela justiça internacional, anulou a sua deslocação a Washington prevista para sábado e onde participaria numa cimeira com a Sérvia, anunciou o emissário norte-americano Richard Grenell.
"O Presidente do Kosovo acabou de nos informar que anulou a sua viagem a Washington na sequência do anúncio emitido pelo procurador especial", do Tribunal internacional para o Kosovo, referiu na rede social Twitter.
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Grenell demitiu-se recentemente do cargo de embaixador dos EUA na Alemanha, mas o Presidente Donald Trump manteve-o como enviado especial da Casa Branca para o Kosovo.
"Respeito a sua decisão de não participar nestas discussões enquanto não ficarem esclarecidas as implicações judiciais destas acusações", acrescentou, sem comentar a decisão do procurador do tribunal sediado em Haia.
No entanto, Grenell assegurou que "as discussões de sábado" na Casa Branca vão manter-se, mas apenas entre o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, e o primeiro-ministro albanês kosovar, Avdullah Hoti.
Segundo os 'media' kosovares, Hashim Thaçi, ex-chefe do Exército de Libertação do Kosovo (UÇK, os separatistas armados albaneses), estava a bordo de um avião para Washington "no momento do anúncio do seu indiciamento por crimes de guerra e crimes contra a Humanidade no decurso do conflito com a Sérvia no final da década de 1990.
A Casa Branca deve acolher no sábado esta cimeira entre a Sérvia e o Kosovo para tentar relançar um diálogo que está bloqueado há mais de um ano.
No entanto, Washington já admitiu que não espera alcançar um acordo político sobre este complexo conflito territorial, e quando Belgrado continua a recusar reconhecer a independência da sua antiga província do sul com maioria de população albanesa.
Richard Grenell parece para já apostado numa "normalização económica" entre os dois campos opostos, e que deve ser prévia a uma eventual resolução política, num conflito em que a União Europeia (UE) e a Rússia também pretendem obter protagonismo.
Acordo de tréguas foi assinado em 1999
A intervenção do exército da Sérvia no Kosovo em 1998, para combater os pró-independentistas armados albaneses, motivou o envolvimento da NATO através de intensos ataques aéreos contra a Sérvia, e ainda no Montenegro, entre março e junho de 1999, quando foi assinado um acordo de tréguas em Kumanovo, cidade da Macedónia do Norte.
Na sequência desde acordo, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 1244 que confirmava a integridade territorial da Sérvia. Ao basear-se nesta decisão, Belgrado recusou reconhecer a independência da sua antiga província, declarada de forma unilateral em 2008 e de imediato legitimada por diversos países ocidentais, com destaque para os Estados Unidos.
O tribunal sobre o Kosovo teve origem num inquérito internacional que decorreu após um relatório do Conselho da Europa que questionou as atividades de antigos comandantes UÇK, incluindo Hashim Thaçi.
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O ex-primeiro-ministro kosovar Ramush Haradinaj demitiu-se em julho de 2019, após ser convocado pelo tribunal especial na qualidade de suspeito.
Kadri Veseli, ex-patrão dos serviços de informações do UÇK e presidente do parlamento cessante, anunciou em novembro passado ter também recebido uma convocatória do tribunal.
Um relatório do Conselho da Europa evocou a morte ou desaparecimento de 500 pessoas, incluindo 400 sérvios, após a retirada das forças sérvias em junho de 1999, e quando o UÇK garantia o controlo "quase exclusivo" da situação no terreno.
O relatório refere-se designadamente a execuções sumárias, sequestros e tráfico de órgãos retirados das vítimas.
O Kosovo, cerca de 1,8 milhões de habitantes e ex-província sérvia com larga maioria de população albanesa, autoproclamou a independência em 17 de fevereiro de 2008, reconhecida de imediato pelos Estados Unidos e Reino Unido e, progressivamente, por 22 dos 27 Estados-membros da UE.
Para além de Belgrado, a antiga província do sul da Sérvia também não foi reconhecida pela Rússia, China, Índia, África do Sul e dezenas de outras capitais.
Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre são os países da UE que não legitimaram a independência do Kosovo.