O ex-governador do Rio Sérgio Cabral, que desviou 65 milhões de euros do povo, continuou a receber luxos na prisão. Até ser transferido.
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Íntimo aliado do então presidente Lula da Silva, membro do partido de Michel Temer e rosto das organizações dos Jogos Olímpicos de 2016 e da final do Mundial de 2014, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral foi um dos mais poderosos e bem avaliados políticos do Brasil da década passada.
Com tantas relações de peso e com tantas obras para apresentar, só se cometesse crimes muito graves é que se poderia ver apanhado na teia da Operação Lava-Jato.
Ora, os 250 milhões de reais [cerca de 65 milhões de euros] desviados dos cariocas [habitantes da Cidade Maravilhosa] e dos fluminenses [habitantes do estado do Rio] podem ser considerados o tal crime muito grave. Se lhes somarmos a aquisição de toneladas de joias e de relógios e o uso descontrolado de helicópteros do estado, ora para cumprir o trajeto de 10 quilómetros casa-trabalho, ora para levar e trazer o cão à casa de férias, o cleptómano Cabral deu demasiado nas vistas.
E acabou preso. Mas os luxos continuaram. Beneficiando dos seus conhecimentos na prisão carioca que ele próprio inaugurara, usou os pontos cegos da videovigilância para receber iguarias e outros presentinhos. Conseguiu que uma biblioteca existente noutra cadeia fosse transferida para a dele. Recebeu visitas a todas as horas que quis e, dessa forma, recebeu dos seus assessores um dossiê com acusações ao juiz que o condenou. Foi-lhe atribuído um espaço com televisão de 65 polegadas, home theater e generosa videoteca. Medicamentos, uma mercadoria escassa na prisão, não lhe faltaram, por ação do ex-secretário estadual da Saúde. Consta que usufruiu até de escolta pessoal na cadeia.
Finalmente, nos últimos dias foi descoberto um espaço na penitenciária com suítes, paredes pintadas de rosa, luzes encarnadas e espaçosos chuveiros: era o motel onde Cabral e a sua gangue relaxavam das "agruras" da prisão com visitas de prostitutas.
Foi, por isso, transferido para cadeia mais austera, em Curitiba, a capital da Lava-Jato.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da Rádio a crónica Acontece no Brasil.