"Pressões crescentes contra a imprensa." Dois jornalistas acusados de sedição em Hong Kong
Encerramento do jornal online Stand News já foi condenado pelos EUA. Diretor-executivo da organização de direitos humanos Hong Kong Watch fala em golpe para a liberdade de imprensa.
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Dois dos sete jornalistas detidos na quarta-feira em Hong Kong já estão formalmente acusados de sedição. O jornal online Stand News foi encerrado por acusação de publicação sediciosa, ao abrigo de uma lei colonial de 1938 e que foi esquecida durante décadas.
O encerramento do jornal já foi condenado pelos EUA. O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken considera que, ao silenciar os media independentes, a China e as autoridades locais minam a credibilidade e validade de Hong Kong.
Perante esta situação, Benedict Rogers, diretor-executivo da organização de direitos humanos Hong Kong Watch, considera que o fim do Stand News é mais um golpe para a liberdade de imprensa no território. Em declarações à TSF defendeu que a liberdade de imprensa já estava bastante diminuída com o encerramento do Apple Daily, em junho, e também com a imposição de novas regras aos jornalistas da Rádio e Televisão Pública de Hong Kong, mas a situação pode ficar ainda pior.
"Sei que há pressões crescentes contra a imprensa estrangeira, alguns jornalistas e correspondentes viram os vistos negados e de certeza que encontram mais dificuldades no acesso às fontes para fazerem o seu trabalho jornalístico porque as pessoas em Hong Kong estão muito mais relutantes em falar com os jornalistas agora. Penso que o ambiente vai ficar pior para a imprensa internacional. Se vamos ver o tipo de intimidação e assédio que vemos contra alguns jornalistas estrangeiros no interior da China, não sei, mas penso que o ambiente vai ficar muito mais desafiante para eles", revelou à TSF Benedict Rogers.
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O atual diretor da organização de direitos humanos Hong Kong Watch foi jornalista no território chinês durante cinco anos, logo após a transição da antiga colónia britânica para a China, e em 2017 foi proibido de entrar em Hong Kong.
Agora, Benedict Rogers condena as declarações do número dois do governo do território que, horas depois das detenções e das buscas ao jornal Stand News, pediu aos profissionais da comunicação social para se distanciarem das "maçãs podres" e dos "elementos do mal".
"Penso que foi uma declaração extraordinária, um tipo de declaração que até muito recentemente nunca iria esperar que viesse do governo de Hong Kong, soou bastante a um tipo de declaração que seria normal ouvir de pessoas ligadas ao regime, em Pequim. John Lee tem sido muito bem doutrinado com o vocabulário do partido comunista chinês. Diria que os comentários dele são muito perigosos porque o jornalismo não é um crime e tanto o Apple News como o Apple Daily tinham jornalistas muito decentes e corajosos que publicavam artigos que o regime não gosta", explicou o diretor da organização de direitos humanos Hong Kong Watch.
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John Lee é o atual número dois do governo e antigo secretário para a segurança de Hong Kong. Um cargo que exerceu durante os maiores protestos pró-democracia na antiga colónia britânica.
A polícia "acusou formalmente dois homens, de 34 e 52 anos, e o site noticioso de conspiração para fazer uma publicação sediciosa [contestação contra a autoridade]", afirmou a polícia, sem identificar as duas pessoas.
De acordo com media da região semiautónoma chinesa, trata-se do editor Patrick Lam e do antecessor Chung Pui-kuen, detidos na quarta-feira com outras cinco pessoas, também ligadas ao Stand News.
Os restantes detidos "permanecem sob custódia para investigação adicional", disse a polícia. O Stand News, fundado em 2014 e muito ativo durante os protestos antigovernamentais no território em 2019, anunciou na quarta-feira que ia encerrar e despedir todos os funcionários, na sequência da operação das autoridades, que congelaram os bens da publicação.
A operação das autoridades policiais de Hong Kong contra o portal suscitou condenações internacionais, incluindo do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.
"O jornalismo não é sedição", disse o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, na quarta-feira, apelando à China e às autoridades de Hong Kong para que "parem de atacar os meios de comunicação livres e independentes".