Um mês após ter sido formado, o governo francês de Michel Barnier enfrenta um clima de instabilidade. Conflitos internos e ameaças de demissões evidenciam a fragilidade de um governo dividido, numa altura em que a tensão cresce dentro dos principais ministérios
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O governo de Michel Barnier completou um mês e, em pouco tempo, as divisões internas já são visíveis. Desde o início da formação do novo Governo francês, a discórdia entre o ministro da Justiça, Didier Migaud, e o ministro do Interior, Bruno Retailleau, tem sido evidente.
Bruno Retailleau defende uma abordagem mais rigorosa na aplicação das penas criminais, propondo até a construção de novas prisões. "As sentenças devem ser proferidas e executadas. Precisamos de construir mais prisões. Apesar de não ser a minha área, vou discutir este tema abertamente com Didier Migaud", defende o ministro do Interior.
Por sua vez, o ministro da Justiça, Didier Migaud, é firme na sua resposta: "Bruno Retailleau deveria saber que a justiça é independente no nosso país. O que é essencial numa democracia."
A discórdia entre ministros vai além das questões de segurança. O aumento dos impostos sobre o gás, por exemplo, criou um foco de tensão. A ministra da Transição Ecológica e Energia, Agnès Pannier-Runacher, alertou para o risco de o gás se tornar mais barato do que a eletricidade, o que pode atrasar a descarbonização e comprometer o futuro.
Aquelas afirmações foram contestadas pelo ministro do Orçamento. "Enquanto ministro do Orçamento e das Contas Públicas, quero esclarecer que o projeto de lei não prevê um aumento dos impostos sobre o gás", declarou Laurent Saint-Martin.
No setor da saúde, as divergências também surgem em torno da Ajuda Médica Estatal (AME). A ministra da Saúde, Geneviève Darrieussecq, defende que esta ajuda é um sistema bem gerido e útil. A ministra da Saúde fez referência a um relatório recentemente elaborado por Evin e Stefanini e afirma, de forma clara, que "a Ajuda Médica Estatal é um sistema útil e com uma boa gestão".
Já o ministro do Interior vê neste programa um incentivo à imigração clandestina: "Temos de tomar em consideração que o relatório elaborado pelos deputados Stefanini e Evin, que aponta que a Ajuda Médica Estatal pode ser um incentivo à clandestinidade", defende Bruno Retailleau.
As divisões internas foram agravadas por figuras como o antigo primeiro-ministro, Gabriel Attal, e o antigo ministro do Interior, Gérald Darmanin, que lamentam "impostos excessivos e reformas insuficientes".
Com a discussão e votação do Orçamento de 2025, a instabilidade alastra-se pelo Parlamento, onde a base de apoio ao Governo é frágil, contabilizando pouco mais de 200 deputados, bem abaixo dos 289 necessários para assegurar uma maioria absoluta.
Michel Barnier pode ser obrigado a recorrer ao polémico artigo 49.3 da Constituição, que permite aprovar leis sem votação parlamentar. “Espero que a Assembleia Nacional adote este Orçamento, que considero sério e responsável. Vamos ver. Se não conseguirmos, recorreremos ao artigo 49.3, que é uma ferramenta da Constituição", assegurou o chefe de governo francês.
Michel Barnier enfrenta um teste decisivo com a apresentação do Orçamento para o próximo ano, que está a ser debatido esta semana no Parlamento francês.
