Primeiro-ministro da Geórgia fala em tentativa de golpe de Estado e denuncia agentes estrangeiros
Irakli Kobakhidze afirma que serviços de inteligência estrangeiros apoiaram aquilo que considera ser uma tentativa de golpe, depois de manifestantes pró-democracia terem marchado em direção ao palácio presidencial, onde alguns tentaram entrar
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O primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobakhidze, considera que o que aconteceu o país foi vítima de uma tentativa de golpe de Estado, durante a noite de sábado, orquestrada por serviços de informações estrangeiros.
Em causa está a manifestação pró-democracia na praça central de Tiblissi e posterior tentativa de assalto dos manifestantes ao palácio presidencial. O chefe do Executivo georgiano não é reconhecido pela oposição nem pela União Europeia, que entende que as eleições gerais em que Irakli Kobakhidze foi eleito não foram justas e livres.
Kobakhidze garante agora que a rede de agentes estrangeiros que terá apoiado este golpe "será completamente desfeita" e anunciou que já houve detenções relacionadas, mas não adiantou que serviços e que países estão em causa. O Governo georgiano, insiste, "frustrou uma tentativa de golpe planeada por serviços de inteligência estrangeiros".
"Ninguém ficará impune... muitos outros devem esperar sentenças pela violência que cometeram contra o Estado e as forças da ordem", declarou.
No sábado, o ministro do interior tinha indicado a prisão de seis dirigentes da oposição, ligados aos protestos.
A comissão eleitoral confirmou que o partido Sonho Georgiano conquistou a maioria nos executivos de todas as câmaras no país, mas a oposição foi impedida de participar na maior parte das eleições e, nas que participou, a campanha foi fortemente condicionada, devido à proibição de atuação de meios de informação independentes, que têm sido perseguidos pelas autoridades georgianas.
O país do Cáucaso, em plena crise política, dividido entre a União Europeia (UE) e a Rússia, viu o partido Sonho Georgiano, do primeiro-ministro, Irakli Kobakhidze, obter mais de 80% dos votos depois de terem sido apuradas quase 75% das mesas de voto, segundo a Comissão Eleitoral.
Este foi o primeiro teste para o partido, acusado de procurar a aproximação a Moscovo, desde as eleições legislativas de outubro de 2024, que venceu oficialmente, mas cujo resultado é contestado pela oposição.
Segundo organizações não-governamentais de defesa dos direitos humanos, cerca de sessenta opositores, jornalistas e ativistas foram presos no espaço de um ano.
No sábado, os manifestantes marcharam em direção ao palácio presidencial, onde alguns tentaram entrar brevemente, sem sucesso, observou a AFP, enquanto outros ergueram barricadas e as incendiaram.
A manifestação dissolveu-se pouco depois da meia-noite.
No poder desde 2012, o Sonho Georgiano apresentou-se inicialmente como uma alternativa liberal ao ex-Presidente Mikheil Saakashvili, um reformista pró-europeu que governou o país durante quase dez anos a partir de 2004 e se exilou na Ucrânia após a sua queda.
Mas, desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, o partido tem sido acusado de tendências autoritárias e de procurar a aproximação a Moscovo. O partido tomou medidas anti-LGBT e aprovou uma lei sobre "agentes estrangeiros", criticada pela UE. O processo de adesão da Geórgia à UE foi suspenso.