O primeiro-ministro demitiu-se por causa das mortes de manifestantes que serão já cerca de quatrocentas.
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A principal força do Parlamento iraquiano, a coligação apoiada pelo líder xiita Muqtada al-Sadr, anunciou este domingo que renuncia apresentar um candidato a primeiro-ministro, após a demissão de Adel Abdul-Mahdi, delegando a decisão ao povo que protesta nas ruas iraquianas.
"Partindo das diretrizes de Muqtada al-Sadr de acabar com a influência partidária e sectária, a coligação Sairun comunica que renuncia ao direito e (o entrega) aos manifestantes, porque o povo é dono desta decisão", afirmou, numa conferência de imprensa, o presidente da aliança, Nabil al-Tarfi.
O Parlamento do Iraque aceitou hoje, numa sessão extraordinária, a demissão do Governo de Adel Abdul-Mahdi, uma formalização que acontece dois dias depois do político ter anunciado a sua intenção de renunciar ao cargo de primeiro-ministro e após o influente grande ayatollah Ali Sistani, a mais alta autoridade xiita do país, ter apelado à assembleia para retirar a confiança ao governante e pedir a sua substituição.
O apelo do ayatollah Ali Sistani surge após dois meses de contestação popular no Iraque, muitas vezes marcada pela violência, que já provocou mais de 420 mortos.
A coligação Sairun, o bloco político mais votado nas eleições de 2018, com 54 elementos no Parlamento, foi chamada a apresentar um candidato ao cargo de primeiro-ministro ao Presidente iraquiano, Barham Saleh.
Mas, segundo assegurou Nabil al-Tarfi, a coligação defende que o nome a apresentar tem de ser um "candidato do povo".
Em reação aos últimos acontecimentos, o influente líder xiita Muqtada al-Sadr saudou os recentes desenvolvimentos políticos no Iraque, frisando que a renúncia de Adel Abdul-Mahdi é "o primeiro fruto da revolução, mas não o último".
Também sugeriu que o próximo primeiro-ministro do país seja decidido num referendo popular entre cinco candidatos.
Até agora, nenhum nome surgiu como um possível substituto de Adel Abdul-Mahdi.
Em outubro de 2018, quando Adel Abdul-Mahdi foi designado para liderar o Governo iraquiano, foram necessários meses para alcançar um consenso sobre a sua candidatura.
Desde o início de outubro passado que dezenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas iraquianas, indignados com o que consideram ser a corrupção generalizada, a falta de oportunidades de emprego e os fracos serviços básicos, apesar da riqueza em petróleo do país.
As manifestações de protesto têm ocorrido sobretudo nas praças Tahrir e Khilani, na capital iraquiana (Bagdad), e nas províncias predominantemente xiitas do sul, contando com uma dura repressão das forças de segurança iraquianas.
A par das vítimas mortais, fontes médicas e de segurança iraquianas já contabilizaram cerca de 15.000 feridos (a maioria manifestantes) durante os protestos.
Este é primeiro movimento social espontâneo em décadas no Iraque.