São 40 desenhos que o homem saudita entregou ao advogado e que agora foram divulgados pelo The Guardian.
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Abu Zubaydah, um homem detido em Guantánamo há mais de 20 anos revelou a dimensão da tortura usada pelos norte-americanos desde o 11 de Setembro. O cidadão saudita desenhou imagens do que ele e outros viveram nas mãos dos serviços de segurança.
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São 40 desenhos que entregou ao advogado. Com a ajuda de alunos e outros professores do centro de política e investigação de uma universidade norte-americana, escreveu um relatório de denúncia.
O jornal britânico The Guardian revela esta quinta-feira, pela primeira vez, as imagens e o documento sobre os abusos do FBI e a CIA nas prisões ilegais e em Guantánamo. Desde 2002 que a CIA e o FBI tentavam esconder os métodos que utilizaram para interrogar os prisioneiros alegadamente responsáveis por ataque terroristas.
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Os vídeos que os serviços secretos fizeram das sessões de tortura foram apagados contra ordens judiciais e o relatório do Senado sobre as técnicas de interrogatório continua em segredo quase uma década depois de ter sido concluído. No entanto, apesar do secretismo, tudo ficou gravado na memória do detido que foi submetido a estas torturas.
Abu Zubaydah esteve nas prisões ilegais dos EUA entre 2002 e 2006. Depois foi transferido para Guantánamo, onde continua apesar de nunca ter sido acusado de qualquer crime.
O cidadão saudita tornou-se na primeira vítima, mas também na primeira testemunha das técnicas utilizadas. Algumas aprovadas, mas outras aplicadas à margem das decisões do departamento de justiça.
Os desenhos de Abu Zubaydah são tão realistas que os rostos dos agressores foram escondidos para que não pudessem ser identificados. O relatório agora divulgado diz que cada minuto em que estava acordado se tornou uma oportunidade para os torturadores treinarem.
As ilustrações mostram como o saudita foi imobilizado num caixão onde ia sendo colocada água, foi submetido 24 horas por dia a afogamentos simulados e espancavam-no contra uma parede ou chão de cimento. Foi forçado, durante horas, a estar em posições impossíveis, sujeito a frequentes buscas anais que, na verdade, eram violações, humilhado por questões religiosas, pendurado pelas mãos, colocado nu em frente a mulheres, privado de alimentos e acorrentado durante semanas seguidas.
O detido, que tem agora 52 anos, desenhou ainda outra situação em que insetos e, sobretudo, escorpiões eram colocados na cela quando estava imobilizado e incapaz de se defender de qualquer ataque. Nos poucos momentos em que conseguia dormir era acordado à força com espancamentos, ruídos ensurdecedores e ameaças.
A nudez, violência sexual, humilhação e o uso de tortura durante dias nunca foram aprovados pelo departamento de justiça.
As sessões de tortura multidimensionais e multisensoriais era projetadas para que a dor física e psicológica pudessem ser usadas para atormentar os prisioneiros. Era através desse abuso contínuo que os interrogadores esperavam condicionar o detido a um estado totalmente dependente.
Apesar de todas as consequências, Abu Zubaydah e outros 119 detidos nunca foram apoiados por médicos. Quinze desses detidos, incluído o saudita, continuam em Guantánamo.