Criadores de gado e de crocodilos pedem intervenção do Governo português em Moçambique
Empresários portugueses, que empregam 800 trabalhadores, pedem intervenção do Estado português em Moçambique.
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O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro já conversou com os portugueses na cidade da Beira, recolhendo também as suas queixas. As críticas são dirigidas, sobretudo, ao sistema consular em Moçambique e ao seu funcionamento nos dias após a passagem do ciclone Idai pela região.
Os portugueses ouvidos aproveitaram para pedir a José Luís Carneiro que intervenha, sensibilizando também o Governo de Maputo para a situação dos cerca de 800 trabalhadores moçambicanos que dependem dos empresários portugueses, isto apenas na região da Beira.
No local, a TSF recolheu os testemunhos de vários produtores de gado e de crocodilos, que contaram que entre pessoas e animais, nem todos tiveram a mesma sorte.
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Rodrigo Sebastião, um destes produtores, conseguiu salvar 1000 vacas da subida das águas, que estão agora - e há quase uma semana - num ponto alto atravessado por uma linha férrea. Daí, vem uma nova ameaça: a passagem do comboio.
"Sabemos o que é a questão da soberania dos outros países mas acho que, havendo contactos diretos entre os dois países, é necessário esse apoio. Antes de ontem [terça-feira], os homens dos Caminhos de Ferro de Moçambique foram avisar que o comboio ia passar e que tínhamos de tirar os animais de cima da linha férrea. Eu pergunto: para onde? Se querem matá-los, levem o Exército. Matem-nos, deem tiros de vez. Por isso, peço ao Governo português que intervenha", exortou este criador de vacas.
Ao lado de Rodrigo Sebastião estava Manuel Guimarães, dono de um negócio estranho para a maioria do mundo, mas não para os moçambicanos. Manuel cria crocodilos numa quinta com o objetivo de vender a pele dos animais. São cerca de 27 mil animais e, dado o número, não faltaram rumores de que estavam todos à solta, algo que o próprio garante não ter acontecido.
"Os muros caíram, mas foram imediatamente repostos. Por isso, não fugiram crocodilos, fiquem tranquilos. A quinta ficou totalmente destruída. Nunca mais será a mesma quinta. Tenho dito", atirou este criador de crocodilos de forma convicta.
Os empregados que zelaram pelos milhares de crocodilos são da mesma cepa do que tentou tomar conta do gado. "Consegui chegar a dois quilómetros do curral, onde estava um pastor a quem morreram quatro filhos. Ficou lá, ficou no local e a informação que me deu é que tínhamos perdido 500 cabeças. Mas não se lembrou que tinha perdido quatro filhos. Estava preocupado com as 500 cabeças que tínhamos perdido", recordou Rodrigo Sebastião de forma emocionada, merecendo as palmas de quem o ouvia contar o episódio.
Para já, há 800 empregados e 800 salários em risco, todos funcionários dos empresários portugueses na Beira. Mas mais do que trabalho, estas 800 famílias precisam de roupa, água e comida.
Ainda na noite desta quinta-feira segue para Moçambique um segundo avião C-130 da Força Aérea portuguesa. A bordo seguem kits alimentares e de higiene, tendas, geradores, material de purificação de água e de apoio logístico à missão da Autoridade Nacional de Proteção Civil, que envia também uma equipa multidisciplinar para a Beira.
Esta equipa tem como objetivo participar nas operações de socorro das vítimas do ciclone Idai, que já provocou pelo menos 242 mortos no país. Há ainda 15 mil pessoas que esperam para serem resgatadas, muitas delas nos telhados de casa e no cimo de árvores.
Portugal fretou avião
O Governo português fretou um avião comercial que parte esta sexta-feira para Moçambique com cerca de 50 pessoas e diverso material para ajudar nas operações, após o ciclone Idai, revelou esta quinta-feira o ministro da Administração Interna.
Eduardo Cabrita referiu que o avião comercial vai transportar elementos da Força Especial de Bombeiros, da Guarda Nacional Republicana e bombeiros de corporações do distrito de Santarém, bem como nove pessoas do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses e duas do Laboratório de Polícia Científica da Polícia Judiciária, para ajudarem na identificação das vítimas mortais.
A bordo vão também entre 10 a 12 embarcações semirrígidas para ajudarem nas operações de apoio e resgate que estão a decorrer em Moçambique, afetado pelo ciclone, que causou pelo menos 242 mortos.