A NATO está a poucos meses de declarar o Espaço como domínio operacional.
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A ideia trabalhada na reunião que juntou os ministros da Defesa na sede da Aliança Atlântica, nos últimos dois dias, parece inspirada na proposta discutida na década de 80, atribuída ao então presidente americano, Ronald Reagan, que ficou conhecida como a Guerra das Estrelas. A NATO garante que "não se trata de militarizar o Espaço"
Este género de nova Iniciativa Estratégica de Defesa da NATO assenta no princípio de que a evolução tecnológica vai tornar o Espaço ainda mais como uma área central das operações militares.
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O ministro da Defesa João Gomes Cravinho admite que a NATO está agora disposta a adaptar essa ideia antiga, pois "há um consenso quanto à necessidade de se olhar para o espaço como um domínio em que a Nato precisa de trabalhar para facilitar as suas capacidades militares".
A declaração do domínio operacional do espaço será um dos tópicos tidos como mais importantes da cimeira da Nato, agendada para dezembro, em Londres.
"A Nato está a trabalhar no desenvolvimento de ideias que creio que levarão a conclusões assumidas pelos chefes de Estado e de Governo que se reúnem em Londres no final do ano em dezembro", admitiu o ministro, esperando que o Espaço seja consagrado como "nova área operacional para a Nato".
Ainda assim, o ministro afirma que não se trata de recuperar a Iniciativa Estratégica de Defesa projetada por Ronald Reagan na década de 80 que ficou conhecida como "A Guerra das Estrelas".
"É completamente diferente. É o reconhecimento de que com os desenvolvimentos tecnológicos, a que assistimos nos últimos anos, e também com um povoamento muito mais reforçado do espaço por satélites, temos necessidade de ter doutrinas e ideias comuns e uma convergência de esforços - não para militarizar o espaço -, mas para tirar proveito das valências que estão no Espaço", afirmou João Gomes Cravinho, apontando "por exemplo, para questões relacionadas com sistemas de posicionamento por satélite".
Irão
O tópico estava fora da agenda, mas o secretário americano acabou por fazer uma exposição sobre o assunto, "havendo um consenso de que a Nato não irá ter qualquer tipo de papel direto nesta questão", disse o ministro.
Houve "um apelo generalizado, por parte de vários [governos], para de-escalada de tensões, para se encontrarem formas de natureza política e diplomática para resolver os problemas que existem no Estreito de Ormuz sendo fundamental obviamente garantir a navegabilidade do Estreito", acrescentou João Gomes Cravinho.
Cimeira de Londres
A poucos meses da Cimeira de Londres, a Nato vai dedicar os próximos meses a preparar os temas que deverão ser fechados nesse encontro. Ao que a TSF apurou, a organização quer passar a mensagem de que não vai instalar mísseis de cruzeiro ou balísticos em solo europeu.
Outro dos tópicos está relacionado com as "tecnologias emergentes e disruptivas", como a robótica ou a inteligência artificial, de modo a perceber quais são "as implicações de segurança, que resultam das novas tecnologias inteligentes".
Indiretamente, neste capítulo entra também a discussão sobre a tecnologia 5G, admitiu uma fonte à TSF.
Fatura
Outro dos tópicos, que até já começa a ser recorrente, é a questão da "partilha de responsabilidades", ou o "burden-sharing", que no jargão anglo-saxónico da organização significa discutir quem paga a fatura da Nato.
O compromisso, é levar os membros da Aliança Atlântica - em particular os da União Europeia -, a aumentarem os gastos militares, de modo a atingirem os 2% do PIB, em 2024.
Uma das mensagens que poderá servir de argumento à administração americana, para pressionar os membros da União Europeia, que pertencem simultaneamente à Nato é o facto de, atualmente, 80% da despesa da organização ser realizada por quatro Estados não pertencentes à União, em particular pelos Estados Unidos, Turquia, Canadá, Noruega e pelo Reino Unido (se se considerar o Brexit).
Este ano, Portugal dedica uma parcela equivalente a 1,41% do Produto Interno Bruto a gastos de Defesa, registando-se um aumento face a 1,35% de 2018.