Grupo de independentistas do Rife Marroquino aproveitaram o palco mediático em que a praça de Sant Jaume se tornou, para se manifestarem "contra o regime de Marrocos".
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Um grupo de várias centenas de independentistas do Rife Marroquino aproveitou este sábado o palco mediático em que a praça de Sant Jaume se tornou, para se manifestarem "contra o regime de Marrocos", a partir de Barcelona.
Este protesto foi organizado num dia aparentemente "normal" que contrastou com o a agitação dos últimos dias, em que múltiplas manifestações tomaram conta da cidade. Mas, as ruas de Barcelona continuam a ser o espelho de uma sociedade dividida, sobre a independência da Catalunha.
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Hoje, está previsto um novo protesto. Este é contra a independência.
"Desde que se manifestem de forma pacífica, está tudo bem", comentou Alba, uma tradutora e intérprete que está "disposta" a sair para a rua "quando for chamada, para defender as instituições catalãs".
"Estou muito satisfeita com o que fez Puijdemont", afirma, considerando que o homem que conduziu politicamente a região até à declaração unilateral de independência "fez apenas o que o povo lhe pediu e nada mais".
Mas, a rua é também o espelho de uma dissonância na sociedade. "Nem todos estão de acordo com isto, que é horrível", afirma Alexandre, um professor "catalão, filho de mãe catalã e de pai de Léon".
"Eles são muitos, mas não são a maioria", diz, referindo-se a uma "franja" de independentistas "que não são mais do que a representação (...) muito bem organizada (...) da classe média alta, que não se importam com mais ninguém".
Outras independências
Os berberes do Rife marroquino exigiram "mais democracia, hospitais e educação" e assinalaram a morte do "mártir" dos protestos sociais na região.
Mas, entre os manifestantes, agitaram-se bandeiras vermelhas, com o quadrado branco ao centro e, no interior, em cor verde, uma meia-lua e uma estrela de seis pontas. É a bandeira da antiga República do Rife, o estado proclamado em 1921, por Abdelkrim el Jatabi, que a partir de 1926 passou a ser governado pelo reino de Marrocos.
"Continuamos a reivindicar a nossa bandeira e a nossa República", confessou Mustafá, que ao final da tarde agitava uma haste com duas bandeiras, uma da Republica do Rife, a outra da Catalunha. "Somos do Movimento pelo Rife. Vim de Tarragona, para protestar contra o regime de Marrocos, que nos últimos meses começou a prender pessoas que se manifestavam pacificamente, unicamente por condições sociais", disse este imigrante, de Alhucemas, capital do Rife, que é dono de uma mercearia, especificando que "já são 1400" o número de "presos políticos", na região.
"Também nos manifestamos pelos mortos. Já são cinco. O primeiro foi um rapaz que já deves ter ouvido o nome por aqui: Imad Attabi. Era um vendedor de peixe ambulante a que a polícia tirou o peixe, para atirar para um camião do lixo. Ele atirou-se para apanhar o que era seu e eles carregaram no botão do camião. Mataram-no", conta Mustafa.
Porém, entre os manifestantes havia quem negasse qualquer intenção independentista, assegurando nada mais era do que a exigência de "melhores condições de vida".
"As únicas coisas que pedimos são mais justiça na sociedade, educação, um hospital, para os nossos doentes oncológicos não terem de ir receber tratamentos a Casablanca", diz Mimun. Este rifenho, imigrado em Terrassa, na Catalunha, há quase duas décadas, acrescenta que escolheram o dia de ontem para o protesto, "em várias cidades da Europa", por passarem cinco meses desde a morte de Imad Attabi, o qual consideram "um martir" de uma luta que dura "há anos", por melhores condições de vida "apenas".
"Isto nada tem a ver com pedidos de independência", garante Acraf, um jovem berbere, que vive há "nove anos" em Barcelona. "Gostaríamos que o Rife pudesse ter uma economia mais forte. Só isso", afirma este imigrante que integra uma comunidade de mais de 500 mil rifenhos, que vivem em Espanha, maioritariamente na Catalunha, onde sempre se privilegiou a imigração de fora da América Latina.