Protestos de agricultores franceses são primeiro teste para novo primeiro-ministro
O líder sindical promete continuar as manifestações "pelo tempo que for necessário".
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Os agricultores franceses começaram a bloquear autoestradas e a dirigir-se a edifícios governamentais para exprimir a sua indignação face ao aumento dos custos e àquilo a que chamam de burocracia sufocante, tanto a nível nacional como comunitário.
"Para atingir os nossos objetivos, a violência não é a resposta, mas alguns agricultores estão simplesmente fartos", afirmou à rádio France Inter, esta segunda-feira, Arnaud Rousseau, presidente do FNSEA, o maior sindicato de agricultores de França.
Rosseau prometeu novas manifestações até que as preocupações dos agricultores sejam atendidas.
"A partir de hoje, durante toda a semana e pelo tempo que for necessário será organizado um certo número de ações", sublinhou o sindicalista.
Estes protestos são a primeira crise para Gabriel Attal, que o Presidente Emmanuel Macron nomeou como primeiro-ministro há duas semanas. O Governo francês disse, durante meses, que iria introduzir legislação para ajudar os agricultores, mas no domingo adiou a proposta por algumas semanas, afirmando que queria melhorá-la.
Em Portugal, CAP defende que "não é a melhor altura para fazer protestos"
Apesar de não faltarem motivos, é pouco provável que um cenário semelhante chegue a Portugal. É essa a convicção do secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, que assegura, no entanto, compreender as razões dos manifestantes franceses.
"Há uma política agrícola muito administrativa, com muitas regras, de difícil aplicação desta nova PAC e também a questões ligadas ao preço dos produtos e às margens que ficam sempre muito curtas para a produção. Hoje, com os problemas que existem na Europa, os agricultores todos os meses podiam fazer manifestações porque as questões são muitas. Nós cá podíamos acrescentar a questão da inépcia do Governo face á questão da água, como se viu ainda a semana passada no Algarve", explicou à TSF Luís Mira.
O responsável da CAP lembra que, nos últimos anos, tem deixado recados ao Governo, mas entende que este não é o momento para protestos.
"Vai haver eleições daqui a dois meses ou um mês e meio, não é a melhor altura para fazer protestos. Era um protesto que não se podia dirigir ao Governo nem ao próximo que aí virá. Depois de um novo Governo e se as coisas não forem corrigidas, a CAP tem apontado os graves problemas que existem em Portugal, a baixa execução dos fundos, os atrasos nos pagamentos, a campanha que funcionou mal, a questão da água, a própria desarticulação do Ministério da Agricultura. Foram tudo situações que fizeram parte dos nossos protestos", justificou o secretário-geral da CAP.