João Pedrosa decidiu ficar na cidade chinesa que é o epicentro do novo coronavírus. Agora, escreve no site da TSF sobre o estranho dia a dia em Wuhan.
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Como poderão adivinhar muitos dos meus dias de quarentena, aqui em Wuhan, são passados a ver ou ouvir os canais informativos da televisão chinesa. Claro está que, atualmente, as notícias são quase todas relacionadas com o surto do novo vírus Corona.
Ontem, houve uma exceção e o nome de "Pú táo yá" (Portugal em chinês simplificado) foi notícia. O que geralmente aparece na televisão chinesa sobre Portugal e os portugueses não vai muito além das intervenções do António Guterres como secretário-geral da ONU, das conferências pós-jogos dos excelentes treinadores de futebol ou dos momentos brilhantes do Cristiano Ronaldo.
Mas ontem Portugal foi notícia de destaque pelas piores razões. Estou a falar obviamente dos abomináveis comportamentos racistas a que o Marega foi sujeito no recente jogo de futebol entre o Vitória de Guimarães e o Futebol Clube do Porto.
Foi como sentir um murro no estômago. Fez-me sentir triste, envergonhado e humilhado como Português e como homem.
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Num momento em que toda a China, através da televisão nacional e das redes sociais, tem assistido a inúmeras imagens de suporte e de coragem vindas de todos os pontos do globo, mas também demonstrações de apelo à não-discriminação e de combate à xenofobia, é-me penoso ver e ouvir o nome de Portugal associado a atos de racismo.
Portugal, se quer ter uma sociedade livre e desenvolvida não pode tolerar e permitir estes e outros comportamentos racistas.
Todo o "Pú táo yá yǔ" (Português em chinês simplificado) não se pode rever e muito menos pactuar com atitudes xenófobas e de descriminação racista.
O meu apoio solidário ao corajoso Moussa Marega!
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Crónica dedicada ao maior tio do mundo: o bondoso Miguel Arcanjo (histórico defesa central do Futebol Clube do Porto) que me ensinou muito daquilo que eu hoje sou como homem.
Um abraço para os meus primos Miguel e Pedro e um beijo saudoso para a minha querida tia Mimi Pedrosa.
João Pedrosa, em Wuhan (18 de Fevereiro de 2020)