Puigdemont volta a fugir de Espanha, mas não evita a investidura de Salvador Illa
O socialista é o primeiro presidente da Generalitat não independentista em 14 anos
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Sete anos depois de ter fugido de Espanha, Carles Puigdemont regressou esta quinta-feira a Barcelona e voltou a desaparecer. Num novo desafio à Justiça espanhola, o líder do Junts x Catalunya montou um evento de boas-vindas a poucos metros do Parlamento catalão que esta quinta-feira acolheu a sessão de investidura do socialista Salvador Illa. E quando todos esperavam que fosse detido quando tentasse entrar no Parlamento, Puigdemont voltou a fugir.
A polícia montou uma operação de busca e, durante três horas e meia, todos os acessos a Barcelona estiveram vigiados e todos os veículos foram registados, mas sem êxito. Puigdemont continua em parte incerta.
Depois do discurso esperava-se que Puigdemont participara na sessão de investidura e que pudesse ser detido em qualquer momento, provocando assim a suspensão do ato e boicotando a investidura de Salvador Illa. Mas nada disso aconteceu. A polícia optou por não deter Puigdemont no momento da sua declaração, para evitar tumultos com os milhares de pessoas que assistiam ao ato, mas Puigdemont não voltou a aparecer e Salvador Illa foi investido.
“Hoje vim aqui para vos lembrar que ainda estamos aqui, porque não temos o direito a renunciar. Porque o direito de autodeterminação pertence aos povos e, portanto, ninguém na política tem direito a renunciar a um direito que é coletivo, a um direito do povo da Catalunha de decidir livremente o seu futuro”, começou por dizer Puigdemont no seu discurso.
Perante cerca de 3500 independentistas, em frente ao Arco do Triunfo, em Barcelona, pouco depois das nove da manhã, Puigdemont voltou a falar de perseguição. “Há sete anos que nos perseguem por querermos ouvir a voz do povo da Catalunha. Há sete anos que iniciaram uma dura repressão que nos levou à prisão e ao exílio, que afetou a vida de milhares de pessoas por ser independentistas, às vezes só porque falam catalão, e transformaram o facto de serem catalães em algo suspeito", denunciou.
Nestes sete anos, disse, “a repressão causou muitos estragos e continuará a fazê-lo enquanto a politização da justiça não parar, enquanto quatro juízes mandarem mais do que um Parlamento”, em referência à decisão do Supremo Tribunal de não lhe aplicar a lei de amnistia.
O Supremo Tribunal negou-se a aplicar a lei de amnistia a Carles Puigdemont, por considerar que o delito de malversação de dinheiro público, do qual está acusado, não entra na lei. A norma estipula que o delito de malversação deve ser amnistiado com duas exceções: se houver enriquecimento pessoal de carácter patrimonial e se afetar os interesses da União Europeia. Na interpretação do juiz, o delito de Puigdemont entra nestas exceções e não pode ser amnistiado. “Não estamos interessados em estar num país onde as leis de amnistia não amnistiam”, insistiu.
"Hoje muitos pensam que vão celebrar o facto de me prenderem e pensam que para servir de lição vale a pena quebrar até uma lei aprovada pelo vosso Parlamento. Mas estão enganados. E no seu erro irão uma vez mais prejudicar a credibilidade da democracia espanhola, embora saibamos que isso lhes importa muito pouco. Não estamos interessados em estar num país onde as leis de amnistia não amnistiam", afirmou.
Sessão de Investidura
Dentro do Parlamento Catalão a dúvida sobre se Puigdemont iria aparecer ou não para exercer o seu direito de voto permaneceu até ao último momento. No final, nada disto aconteceu e Salvador Illa foi investido, por maioria absoluta, com 68 votos a favor e 66 contra.
“Vou tentar estar à altura das circunstâncias e vou governar para todos, com pluralidade e respeito. Só vamos sair desta todos juntos. Estou ao vosso serviço. Começamos o caminho”, disse depois de ser investido.
A fuga de Puigdemont provocou uma catadupa de reações, com a oposição a aproveitar para criticar Pedro Sánchez. O líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo descreveu a nova fuga de Puigdemont como uma “humilhação insuportável”. Numa mensagem na rede social X, o presidente do Partido Popular acusou Pedro Sánchez de ser “o responsável deste delírio”, dizendo ainda que “danificar a imagem de Espanha desta forma é imperdoável”.
Mais duro foi ainda Santiago Abascal, líder do partido de extrema-direita Vox, que acusou Pedro Sánchez de ser “um miserável, e o culpado da destruição do Estado de Direito e de que em Espanha, os criminosos saiam impunes”.
Do lado do Governo ainda não há reações oficiais, mas alguns jornais espanhóis falam de incredulidade perante a atitude dos Mossos d’esquadra que deixaram que Puigdemont desse um comício em Barcelona sem o prenderem.
Dentro dos Mossos d ‘Esquadra o ambiente é pesado. Num comunicado, a força policial garante que o dispositivo montado estava pensado para efetuar a detenção “de forma proporcional e no momento mais oportuno”. O principal sindicato, SAP-Mossos, também através de um comunicado, admitiu o “ridículo da situação” e pediu explicações ao Departamento de Administração Interna da Generalitat, que já anunciou que vai comparecer publicamente na sexta-feira.
