Ksenia Ashrafullina, ativista russa a viver em Portugal conta à TSF que “Navalny já durante a vida foi um mito".
Corpo do artigo
A oposição ao regime de Vladimir Putin não morreu com Alexey Navalny. No dia do funeral do principal opositor do regime russo, a ativista Ksenia Ashrafullina, uma russa a viver em Portugal, diz à TSF que não tem dúvidas de que Navalny conseguiu tirar as pessoas da apatia e há toda uma geração interessada na política.
Para a ativista Ksenia Ashrafullina, “Navalny já durante a vida foi um mito e aquilo que noto é que este mito de um herói vive e agora é a mulher dele, Yulia Navalnaya, que aceitou ser a nova líder. Percebemos também na comunidade russa que somos pequenas reflexões do Navalny, somos Navalny, porque ele ensinou tanta gente a ser ativista, a sair da apatia e da descrença. Navalny envolveu as pessoas na política! Há líderes que só querem toda atenção para elas, mas também há líderes que conseguem isso partilhando tudo aquilo que sabem fazer com os seus. Navalny fez crescer uma geração de pessoas interessadas na política e com capacidade de participar”.
O funeral de Alexey Navalny acontece um dia depois do discurso de Vladimir Putin à Nação. Para Ksenia Ashrafullina este foi um discurso vazio que tentou alimentar o medo. A ativista russa afirma que o presidente russo faz de tudo para tentar apagar o dia de hoje da história.
“O discurso aconteceu num contexto de absoluto medo perante um corpo morto. Vladimir Putin faz de tudo para que as pessoas não possam participar no funeral. Está tudo cheio de baias, na igreja e no cemitério para que as pessoas não possam comparecer, porque isto seria uma imagem que não quer ver. É uma forma de abafar, tirar da história, quer fazer como se Navalny nunca tivesse acontecido na história. Mas Navalny foi um herói, instalou uma maneira de pensar diferente, fez crer às pessoas que podem ser honestos e transparentes”, defende Ksenia Ashrafullina.
Esta quinta-feira o Parlamento Europeu aprovou uma resolução que responsabiliza Putin e o governo russo pela morte de Alexey Navalny. Ksenia Ashrafullina diz que esta decisão peca por tardia.
“Tivemos que perder o Navalny para a União Europeia fazer uma coisa que já tínhamos pedido há anos. Todas as palavras, a mensagem da declaração estão certas, diz que não se trata de culpar os russos, mas envolvê-los na investigação dos crimes de corrupção, é tirar legitimidade a Putin e já o poderíamos ter feito há 14 anos”.
As cerimónias fúnebres do opositor russo Alexei Navalny, morto em 16 de fevereiro na prisão, estão agendadas para as 12h locais (9h em Lisboa) na Igreja do Ícone da Mãe de Deus, no sudeste de capital russa e no bairro onde vivia Navalny quando estava em liberdade, de onde partirá um cortejo para o cemitério de Borisovsskia, a cerca de 20 quilómetros do Kremlin. Na quinta-feira, os colaboradores do opositor russo disseram que a funerária estava a recusar-se a transportar o corpo para o velório, na sequência de ameaças de desconhecidos.