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O intérprete encarregado de traduzir as promessas dos políticos para a língua brasileira de sinais, destinada a surdos-mudos, andava a dizer o que lhe apetecia.
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Em campanha eleitoral - e o Brasil está a passar por uma particularmente tensa e densa - os políticos exageram. Prometem o que não podem cumprir. Apregoam mil e uma soluções possíveis para problemas impossíveis. Mentem. E até inventam.
Aos eleitores, com a ajuda da imprensa e de outros meios, cabe filtrar o discurso. Mas e quando os políticos, por acaso, até dizem a verdade e a mensagem chega inventada ao eleitor?
Aconteceu em Espírito Santo, o Estado imediatamente a norte do Rio de Janeiro, por culpa de um tal Cássio Veiga.
Cássio Veiga é intérprete de "libras", como é conhecida a língua brasileira de sinais ou língua brasileira para surdos-mudos.
Já a campanha ía alta, quando especialistas notaram que Veiga adulterava o que os políticos diziam, lá, discretamente, naquele quadradinho no canto inferior direito onde traduzia os programas eleitorais do português para o "libras".
Resultado? No Espírito Santo, toda a campanha eleitoral televisiva foi cancelada porque três partidos, entre os quais os dois que governam o Brasil desde 1994, o PSDB e o PT, haviam contratado Veiga. E Veiga foi dizendo por sinais o que lhe dava na cabeça.
Agora, os tempos de antena estão a ser todos refeitos para que os políticos possam exagerar, prometer o que não podem cumprir, apregoar mil e uma soluções possíveis para problemas impossíveis, mentir e até inventar em todas as línguas em simultâneo.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da TSF a crónica Acontece no Brasil.