Comandante da força nacional destacada no Báltico relata à TSF dezenas de interceções de aeronaves da Federação Russa.
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A poucos dias da Cimeira da Nato, em Vílnius, a TSF esteve na Lituânia, na base de Šiauliai, onde estão estacionados os F-16 da Força Aérea Portuguesa, em máxima prontidão. É dali que partem para as missões de policiamento no Báltico.
Nos últimos três meses os pilotos dos caças F-16 da Força Aérea Portuguesa, sob o comando da NATO, já intercetaram quase meia centena de aeronaves russas, em 15 missões de alerta real.
Em conversa com a TSF, o comandante da força nacional destacada na Lituânia, revela que o número de interceções de aviões da Federação Russa junto ao espaço aéreo europeu é uma realidade cada vez mais frequente.
"Durante essas 15 missões, podemos intercetar [e] identificar 46 aeronaves da Federação Russa, nomeadamente aeronaves de recolha de "intelligence" e aeronaves [tipo] caça", afirmou o comandante da Força Nacional Destacada no Báltico, o Major Piloto-Aviador, nome de código Viriato.
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Apesar das circunstâncias, afirma que não há registo de ações hostis da parte das aeronaves intercetadas, nem é verificado "nenhum comportamento diferente. Claro que são aeronaves diferentes. A formação dos próprios pilotos é diferente, mas por norma há uma grande cordialidade no ar".
A interceção ocorre sem qualquer comunicação verbal. Mas, é frequente o contacto visual entre os pilotos da NATO e Rússia. "Por norma, há contactos visuais e dizemos um pequeno "olá", mas na não passa muito disso", afirma.
"Para a intersecção, somos acionados através dos meios da NATO. Somos conduzidos até à posição das aeronaves a serem intervencionadas, chegamos relativamente próximos e basicamente fazemos uma escolta", detalha o piloto, dizendo que na prática a missão serve para recolha de dados relevantes para a segurança do espaço aéreo.
"A nossa presença junto às aeronaves ajuda os controladores civis a saberem a posição das aeronaves intercetadas, porque muitas das vezes elas não possuem qualquer contacto com os órgãos de controlo aéreo civil ou não possuem meios de identificação eletrónica para identificação dos radares".
"Tiramos alguns apontamentos sobre elementos identificativos das aeronaves, estamos a identificar os números de cauda, armamento a bordo, [e] o número de pessoas. E, lá está, algum comportamento menos normal", afirmou.
O número de aviões russos intercetados NATO praticamente duplicou desde a invasão da Ucrânia. De acordo com os dados do Centro Combinado de Operações Aéreas na Europa, das 300 interceções registadas em 2021, passou-se para um registo de 580 aeronaves russas intercetadas no espaço aéreo europeu.
A expectativa, manifestada à TSF, pelo comandante deste Centro que coordena, a partir de toda a missão de policiamento aéreo no flanco norte da Europa, o Major General da Força Aérea Belga Harold Van Pee é que 2023 o número de interceções de aviões russos, incluindo aviões de combate, junto ao espaço aéreo europeu possa novamente ser ultrapassado.
"Agora estamos a ter cerca de três a quatro a cinco por semana. Há semanas que são mais ocupadas do que outras. Por vezes, raramente temos um alerta real. Outras vezes, temos cerca de dez ou 15 numa semana. Então, depende. Mas, diria que são cerca de cinco alertas reais por semana nesta parte da Europa. A nossa congénere no sul da Europa, provavelmente também terá atividades semelhantes", destacou.
Desde 2007, a Força Aérea Portuguesa já assumiu o papel de liderança das forças destacadas no Báltico em cinco missões, nas seis já realizadas.
"Temos um destacamento de 82 militares, entre pessoal de manutenção e pessoal de operações e logística, maioritariamente da BA5 de Monte Real, mas também pessoal de Lisboa", conta o piloto, assumindo que "é um número muito reduzido, mas suficiente para mantermos este tipo de operação".
Além das quatro aeronaves portuguesas, na base lituana de Šiauliai estão outros quatro caças F16 da Força Aérea Romena, em alerta máximo.
O piloto português afirma que "o treino com os aliados é a melhor ferramenta para garantir a prontidão, e para continuar o papel na defesa do espaço aéreo dos países membros e parceiros da NATO e para preservar e manter a paz".
"As nossas forças mantêm uma postura de muito alta prontidão, prontas para descolar a qualquer momento, dia ou noite, para identificar e monitorizar qualquer aeronave que não cumpra critérios de segurança bem definidos ao entrar no espaço aéreo sob nossa responsabilidade", detalha.
Desde 2007, a força aérea romena passou também a assegurar o policiamento daquela região, com F-16s Carpathian Vipers, que substituíram os antigos caças russos LanceRs MiG-21, que antes integrava o seu arsenal.