Os protestos em Hong Kong duram há quase três meses. Na última semana, foram detidos proeminentes ativistas e três deputados do parlamento.
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A polícia de Hong Kong anunciou esta segunda-feira que desde o início dos protestos pró-democracia foram detidas 1.117 pessoas, 159 das quais no fim de semana, marcado por manifestações não autorizadas e confrontos violentos.
Dos 159 detidos, 132 são homens e 26 mulheres entre os 25 e os 38 anos, adiantaram as forças de segurança numa conferência de imprensa transmitida em direto na rede social Facebook, durante a qual se destacaram os atos de vandalismo de alguns "manifestantes radicais".
Os manifestantes foram detidos por participação em manifestações ilegais e agressões a elementos das forças de segurança. A polícia sublinhou que entre sexta-feira e domingo as bombas incendiárias lançadas pelos manifestantes foram "mais destrutivas e perigosas", com muitas das ações a colocarem em perigo a população.
A escalada de violenta na região administrativa especial chinesa traduziu-se este fim de semana em 241 disparos de gás lacrimogéneo e 92 balas de borracha por parte da polícia, que foi obrigada a efetuar dois disparos de aviso para o ar.
A conferência de imprensa teve lugar esta segunda-feira à tarde (hora local), num momento em que milhares de manifestantes participam em mais um protesto pró-democracia em Hong Kong, no primeiro de dois dias de greve geral e no início de um boicote às aulas que deve durar duas semanas.
A organização indicou que, pelas 17h00 (10h00 em Lisboa), cerca de 40 mil pessoas participavam na iniciativa. Ao contrário do que sucedeu no sábado, marcado de novo por violentos confrontos, a manifestação desta segunda-feira foi autorizada pela polícia e pode prolongar-se até à meia-noite (17h00 em Lisboa).
Cerca de 400 funcionários do Hospital Queen Mary, em Hong Kong, formaram um cordão humano para condenar a polícia por ter negado primeiros socorros a manifestantes que foram alvo de uma intervenção das forças de segurança no sábado, noticiou a rádio local RTHK.
Segundo a organização do protesto, é inaceitável que a polícia tenha demorado mais de duas horas a permitir o transporte para os hospitais dos jovens que ficaram feridos na estação de metro de Prince Edward e que tenha bloqueado o acesso ao local dos socorristas.
Os protestos em Hong Kong duram há quase três meses. Na passada semana, foram detidos proeminentes ativistas e três deputados do parlamento. A polícia deixou de fazer policiamento a pé pelas ruas para evitar quaisquer emboscadas às forças de segurança.
Um ativista foi atacado com tacos de basebol por homens com o rosto tapado. Um polícia foi alvo também de um violento ataque com uma faca à saída de um turno, na sexta-feira.
Em Hong Kong vive-se um impasse político, depois de os manifestantes terem exigido inicialmente a retirada de uma lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China, para depois somarem outras reivindicações, uma delas o sufrágio universal naquela região administrativa especial chinesa.
A chefe do Governo admitiu chamar a si poderes reforçados face à situação de emergência que se vive no território e com a China a estacionar tropas na cidade vizinha, Schenzen.
O movimento pró-democracia definiu cinco reivindicações: a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, e finalmente a demissão da chefe de Governi Carrie Lam e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas", precisamente o que os opositores às alterações da lei da extradição garantem estar agora em causa.
Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário. O Governo central chinês é responsável pelas relações externas e defesa.
Comissão Católica de Justiça e Paz de Hong Kong condena violência policial
A Comissão Católica de Justiça e Paz (CCJP) de Hong Kong condenou esta segunda-feira a "repressão violenta" da polícia sobre os manifestantes pró-democracia durante o fim de semana.Em comunicado, a organização lamentou que as forças de segurança tenham disparado gás lacrimogénio e usado canhões de água, bem como negado primeiros socorros a manifestantes após uma carga policial na estação de metro de Prince Edward.
A CCJP "ficou muito chocada com o incidente e condena severamente tais violências e abusos!", acrescentou.
A mesma organização destacou que desde a oposição à lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China, o Governo de Hong Kong "não respondeu às exigências dos cidadãos e os polícias foram forçados a fazer cumprir a lei, causando sérias divisões sociais, que levaram ao ódio e à escalada dos confrontos".
Por outro lado, destaca-se na mesma nota, depois da chefe do Governo, Carrie Lam, ter afirmado queria "estabelecer uma plataforma de diálogo para resolver as disputas sociais", a polícia "deteve imediatamente vários membros do Conselho Legislativo e ativistas sociais".
A CCJP exigiu que as autoridades dessem resposta a três pedidos. Em primeiro lugar, a retirada integral das emendas à lei da extradição propostas pelo Governo, a criação de uma comissão de inquérito para investigar as ações da polícia, bem como a suspensão de todas as acusações que pendem sobre os manifestantes antes que sejam conhecidas as conclusões dessa comissão.
Em segundo lugar, que a polícia suspenda imediatamente os altos responsáveis policiais envolvidos nas decisões e que coloque um fim às ações violentas. Finalmente, que sejam realizadas reformas políticas para garantir o sufrágio universal, tanto para a eleição do chefe do Governo como para o parlamento local.
A posição do CCJP é conhecida no mesmo dia em que centenas de funcionários do Hospital Queen Mary, em Hong Kong, formaram um cordão humano para condenar a polícia por ter negado primeiros socorros aos manifestantes que foram alvo de uma intervenção das forças de segurança no sábado.
[Notícia atualizada às 15h43]