Autarquia de Kent apenas ofereceu uma barra de cereais aos motoristas que passaram a noite nos camiões.
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Os cerca de mil camionistas que passaram a segunda noite no interior dos veículos parados no condado de Kent, sudeste de Inglaterra, continuam à espera de que a França reabra a fronteira do túnel do Canal da Mancha, encerrado devido à pandemia de Covid-19.
De acordo com o Governo britânico, 945 camiões de vários países estão parados perto do porto de Dover.
As autoridades francesas decidiram no domingo à noite encerrar a fronteira com o Reino Unido após a confirmação de uma nova variante de SARS-CoV-2, mais contagiosa.
O diretor da Associação Britânica dos Transportes por Estrada (RHA, na sigla em inglês), Rod McKenzie, disse que os condutores passaram a segunda noite na estrada e que muitos profissionais são motoristas da Europa continental que tentam "chegar a casa antes do dia de Natal".
McKenzie queixou-se também da atuação da autarquia de Kent, porque apenas "ofereceu aos motoristas uma barra de cereais", considerando-o "um esforço muito pobre por parte das autoridades locais".
"Não estamos a tratar bem os condutores dos camiões, nestas condições muito difíceis em que se encontram", acrescentou.
A principal autoestrada de acesso ao porto de Dover e ao túnel do Canal da Mancha está transformada num parque de estacionamento. As filas estendem-se por várias dezenas de quilómetros, como conta à TSF o motorista Rogério Nunes. "A autoestrada N20, que liga Londres a Dover, tem três faixas de rodagem. Eu estou na faixa de emergência, depois está outra fila na faixa direita, encostada ao separador central, que é o que vai para o ferry, porque há cerca de 15 quilómetros a separar o eurotúnel do ferry. A fila que aqui está do lado direito consegue ser maior do que aquela onde eu estou. Olho para trás e não consigo ver o fim."
"Estou aqui desde ontem. Estive 12 horas sem me mexer, sem mexer o camião. Depois a polícia tirou alguns camiões para um aeródromo e para zonas industriais, e conseguiu três quilómetros de espaço."
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Parado há sete horas, Rogério Nunes já não tem esperança de chegar a casa a tempo da consoada. "Se começar agora, estou convencido de que, 20 horas depois, ainda estou em terreno britânico. Já tudo caiu por terra. Mesmo no Natal em Portugal deixei de acreditar", admite o motorista de pesados.
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À semelhança do que se passa no terminal de Dover no acesso ao Eurotúnel - que une o Reino Unido a França -, encontra-se suspenso o acesso ao terminal de Flokestone, no sudeste de Inglaterra.
No sábado, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou novas medidas em Londres e regiões do sudeste de Inglaterra, incluindo a recomendação contra as viagens ao estrangeiro, devido à nova variante detetada.
Devido ao risco da nova estirpe do vírus, mais de 30 países proibiram viagens do Reino Unido, incluindo a maior parte da Europa, Canadá, Turquia e Hong Kong, e França proibiu a entrada de mercadorias durante 48 horas, gerando o receio de escassez de alguns produtos nos supermercados britânicos.
O Reino Unido realmente depende da importação de certos tipos de alimentos, nomeadamente a maioria (84%) de fruta fresca, quase metade dos vegetais e cerca de um terço da carne de porco.
* Atualizado às 12h55
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