Um ataque de alegados terroristas aconteceu na Estrada Nacional 380, em Cabo Delgado
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Pelo menos quatro agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da Polícia da República de Moçambique morreram num ataque de supostos terroristas a uma escolta na Estrada Nacional 380, Cabo Delgado, disse esta quarta-feira à Lusa fonte oficial.
Segundo a fonte, os agentes da UIR foram apanhados, na terça-feira, numa alegada emboscada dos rebeldes no troço entre Chitunda e Xitaxi, distrito de Muidumbe, cerca das 09h00 (08h00 de Lisboa), quando asseguravam a escolta dos automobilistas que faziam o trajeto Awasse, Mocímboa da Praia a Macomia, centro de Cabo Delgado.
"Foi um dia muito difícil para a força em Cabo Delgado e toda ela no geral, mataram quatro colegas e queimaram a viatura", disse a fonte, a partir de Pemba, acrescentando que as viaturas escoltadas não sofreram danos, mas foram obrigadas a parar na estrada, até à chegada de uma força militar que prestou socorro.
"Os civis não foram atacados, o alvo foi mesmo a nossa força", descreveu a mesma fonte.
Estas escoltas naquela estrada foram retomadas em julho, a pedido das populações locais e empresários, após o recrudescimento dos ataques terroristas na zona.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 5 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.
A ONU estimou na terça-feira que pelo menos 44 pessoas morreram e outras 208 mil foram afetadas no mês de agosto pelos ataques de grupos extremistas em Cabo Delgado, província moçambicana que enfrenta uma insurgência armada há oito anos.
De acordo com um relatório de campo do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), até agosto Moçambique também reportou um total de 111.393 pessoas deslocadas, a maioria provenientes de Cabo Delgado (109.118), apesar de terem sido registadas movimentações de pessoas nas províncias de Niassa e Nampula.
"Os civis continuam a enfrentar graves riscos de segurança e proteção, incluindo raptos, pilhagens e ameaças", refere-se no documento, acrescentando-se que estes incidentes, em agosto, "resultaram em 44 mortos e 101 raptados, entre eles seis crianças e cinco mulheres".
Acresce que a insegurança, combinada com reduções "significativas" no financiamento humanitário, limitou "severamente" a capacidade dos parceiros para alcançar as populações afetadas.
"A violência contra civis, as operações militares, os avistamentos dos grupos armados não estatais e os rumores de raptos e pedidos de resgate tornaram o acesso imprevisível nos distritos com maior gravidade de necessidades e incidentes", descreve-se, acrescentando-se no relatório que a situação resultou na suspensão temporária das missões humanitárias nas zonas rurais dos distritos de Macomia, Quissanga, Muidumbe, Mocímboa da Praia, Meluco e Metuge no início de agosto.
De acordo com o OCHA, em agosto o financiamento para as organizações no terreno era metade do que estava disponível no mesmo período do ano passado, reduzindo a presença humanitária e limitando a capacidade dos parceiros de se adaptarem a um contexto operacional dinâmico ou de alargarem as respostas às necessidades emergentes das cerca de 208 mil pessoas afetadas pelo conflito.
Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula desde finais de setembro devido ao recrudescimento dos ataques no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo anteriores dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou, a 6 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques que se registam em Cabo Delgado.
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6257 mortos ao fim de oito anos de ataques em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual.