"Quero manter-me vivo." Único deputado gay do Brasil não toma posse nem volta ao país
Jean Wyllys cuspiu em Bolsonaro, durante o impeachment de Dilma Rousseff, quando o atual Presidente lhe chamou "veado". Esta quinta-feira, o chefe de Estado brasileiro afirmou tratar-se de um "grande dia", alegadamente devido à decisão do deputado brasileiro.
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Jean Wyllys, deputado do PSOL, partido de extrema-esquerda, anunciou que não irá tomar posse no dia 1 de fevereiro como deputado. Fora do Brasil, de férias, o único gay assumido de entre os 594 parlamentares federais brasileiros, na última legislatura, não vai sequer voltar ao seu país por estar "cansado de sofrer ameaças". "Quero manter-me vivo", reiterou.
"Como é que eu vou viver durante quatro anos dentro de carros blindados, sem conseguir frequentar os lugares que habitualmente frequento?", questionou, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o deputado que foi autorizado a usar escolta policial desde a eleição de Jair Bolsonaro como Presidente.
Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé! ✊ https://t.co/Xy6SyDNXDy pic.twitter.com/Tf6SGmZFHq
- Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) January 24, 2019
Wyllys também se referiu ao facto de o filho mais velho de Bolsonaro, o senador eleito Flávio Bolsonaro, ter contratado para o seu gabinete, ainda enquanto deputado estadual do Rio de Janeiro, a mãe e a mulher de Adriano Nóbrega, o chefe da milícia "Escritório do Crime", que a polícia carioca acredita estar por trás do assassinato em março passado de Marielle Franco, colega de partido de Wyllys, no PSOL.
Por outro lado, durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff, recorde-se, Wyllys cuspiu em Bolsonaro, após este o ter chamado de "veado" e outros adjetivos pejorativos que significam "homossexual" no Brasil.
O deputado citou ainda Pepe Mujica, ex-presidente uruguaio, para sustentar a sua decisão. "Ele disse-me cuida-te rapaz, os mártires não são heróis".
Jair Bolsonaro, por sua vez, escreveu na rede social Twitter "grande dia", ao saber da decisão de Wyllys.
Grande dia!
- Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) January 24, 2019
O substituto de Wyllys será David Miranda, que se intitula "gay, negro e favelado". Ele é casado com Glenn Greenwald, o jornalista americano que divulgou as denúncias feitas por Edward Snowden.