Jornalista e ativista angolano esteve reunido em Lisboa com representantes do Bloco de Esquerda, com o caso de Luaty Beirão como pano de fundo.
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O jornalista angolano considera que o "fundamental" é a relação criada entre cidadãos portugueses e angolanos. Rafael Marques diz que ainda acredita no "bom senso" do presidente angolano para terminar a uma "farsa" que mantém 15 jovens em prisão preventiva. Luaty Beirão foi "catalisador para a mobilização" internacional.
"O fundamental é a relação que os cidadãos portugueses possam estabelecer com os cidadãos angolanos. E esta solidariedade genuína que tem estado a crescer em Portugal é muito mais importante do que as relações bilaterais" disse Rafael Marques à saída de um encontro com os dirigentes do Bloco de Esquerda.
Depois de uma reunião de cerca de uma hora, na sede do BE, em Lisboa, o ativista e jornalista angolano mostrou-se "aliviado" com o fim da greve de fome Luaty Beirão, sublinhando, no entanto, que o artista teve um papel "fundamental" na "mobilização da solidariedade internacional" a favor dos direitos humanos e da liberdade de expressão em Angola.
Perante os jornalistas, Rafael Marques deixou críticas a um regime onde "não há separação de poderes", dando um exemplo: "A própria Lei da Procuradoria Geral da República estabelece que o procurador-geral recebe instruções diretas do presidente da República".
"Logo, só podemos apelar para que o presidente da República cesse de utilizar o poder judicial como arma de arremesso contra aqueles que o criticam", acrescentou.
O jornalista angolano, autor do livro "Diamantes de Sangue", diz, no entanto, que não perdeu a esperança de que José Eduardo dos Santos possa reverter o atual cenário: "Continuo a acreditar que o presidente tenha o bom senso de perceber que está a afundar o seu poder com o caso destes jovens e que ordene a sua libertação imediata porque o julgamento será uma farsa"
Depois do encontro com o Bloco de Esquerda, Rafael Marques distribuiu dois documentos: a Lei Orgânica da Procuradoria Geral da República e do Ministério Público e a acusação, por parte da justiça angola, aos jovens detidos, para depois caracterizar todo o processo de "ridículo".
Leia aqui e aqui os documentos a que se refere Rafael Marques.
Pelo Bloco de Esquerda, Catarina Martins sublinhou que, terminada a greve de fome de Luaty Beirão, é "necessário que os olhos do mundo se mantenham postos em Angola e nestes ativistas", considerando que "nada será o mesmo" depois da luta do artista luso-angolano
A porta-voz bloquista deixou ainda criticas à atuação do Estado português: "O Estado português demorou muito tempo a ter uma palavra. O governo português é tímido demais e tarde demais, não pode ser".