Foi preso em 2012, por desobediência ao rei e insulto ao Islão. Hoje é a cara da luta pela liberdade de expressão na Arábia Saudita, um dos países mais repressivos do mundo.
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Raif Badawi nasceu a 13 de janeiro de 1984 na Arábia Saudita. Escritor e ativista, em 2008 foi um dos fundadores do blogue "Saudi Arabian Liberals Forum" (Rede Liberal Saudita). A plataforma tinha como objectivo debater assuntos políticos e religiosos.
Foi preso em 2012, acusado de desobediência ao rei e de insulto ao Islão. O Supremo Tribunal saudita condenou Raif Badawi a dez anos de prisão, um milhão de riais (cerca de 240 mil euros) e mil chicotadas em público, a serem distribuídas por 20 semanas consecutivas - 50 por semana.
Em causa, publicações que assinou no blogue, onde defende a separação entre religião e política. Entre elas, um artigo de 28 de Setembro de 2010, em que defendia a importância do secularismo. Dizia Raif Badawi que "o secularismo respeita toda a gente e não ofende ninguém. O secularismo (...) é a solução prática para tirar países (incluindo o nosso) do terceiro mundo e levá-los para o primeiro mundo".
O ativista usou até o exemplo da Europa. "Olhem para o que aconteceu depois dos povos europeus conseguirem remover o clero da vida pública e restringi-lo às suas igrejas. Construíram seres humanos e promoveram o esclarecimento, a criatividade e a rebelião", e acrescenta, "estados baseados na religião limitam o seu povo ao círculo da fé e do medo".
No início deste ano, Raif Badawi recebeu as primeiras chicotadas. No dia 9 de janeiro, depois das orações do meio-dia, foi levado até à praça junto à mesquita de Jidá, cidade na Arábia Saudita onde vivia.
A segunda ronda do castigo tem sido adiada desde essa altura. Mas esta terça-feira, a mulher do bloguer revelou que as autoridades prisionais se preparam para retomar as flagelações. Ensaf Haidar voltou a apelar ao rei saudita para conceder o perdão a Raif e permitir que seja deportado para o Canadá, onde está em asilo político com os três filhos desde 2013.
Esta quinta-feira, o Parlamento Europeu atribuiu o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento a Raif Badawi. Um novo passo que traz esperança às várias vozes que têm pedido a libertação do ativista.
Os textos escritos por Raif foram reunidos e publicados em livro. "1,000 Lashes: Because I Say What I Think" (em português, "1000 Chicotadas: Porque eu Digo o que Penso") tem tradução em inglês, alemão e francês e foi co-vencedor do Prémio PEN Pinter deste ano.