José Ramos-Horta considera sábia a decisão do conselho de segurança e aponta "o fator humano" como o maior trunfo de António Guterres na corrida ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas.
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O argumento foi invocado em várias "conversas privadas" ao longo dos últimos meses. Ramos-Horta conta em entrevista à TSF que sempre apelou a que não se olhasse apenas para os aspetos "tecnocráticos" ou para o "currículo" da candidatura de António Guterres mas se atendesse "ao fator humano".
As características do antigo primeiro-ministro português encaixam que nem uma luva nas necessidades da ONU, considera Ramos-Horta. Desde logo, pelo facto de "ser uma pessoa séria, simples, acessível, humilde", uma pessoa "com o coração no lugar" e as Nações Unidas precisam "de uma pessoa com o coração no lugar. O mundo precisa de uma pessoa com o coração no lugar".
Os desafios são imensos, desde logo, no capítulo da prevenção e resolução de conflitos. O antigo presidente de Timor considera que "nos últimos a ONU tem estado quase afastada do conflito da Síria", "ausente no problema da Ucrânia", "completamente afastada do processo israelo-palestino".
O líder histórico timorense sublinha que nos últimos anos as Nações Unidas têm estado mais empenhadas na "agenda para o desenvolvimento", uma causa "extrema importante" mas que foge ao que a "ONU foi criada para fazer".
Ramos-Horta considera que, a par de um papel mais interventivo na promoção da paz no mundo, é urgente avançar com uma reforma da instituição. "Há muitos interesses entrincheirados no próprio secretariado". As consequências são "os desperdícios, duplicações, rivalidades entre departamentos".
António Guterres é, na opinião do antigo chefe de estado e de governo de Timor, a pessoa ideal para promover estas reformas que devem ser feitas "com muita firmeza mas também muita inteligência (...) para não causar uma excessiva comoção".
O beijo da morte. A imagem é usada para descrever o que aconteceu com a candidatura de Kristalina Georgieva. Diz Ramos-Horta que não entende "como pessoas tão experientes em Bruxelas possam ter feito tamanho disparate". A candidatura "tirada da cartola" acabou por ser um "beijo da morte" e que também contribuiu, segundo Ramos-Horta, para este desfecho.