Visita do presidente do Brasil a Lisboa pode servir para corrigir declarações recentes sobre a Ucrânia para agradar à Europa. Relação próxima com Marcelo também é notada nos media brasileiros.
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A viagem de Lula a Portugal, antecipada para a noite desta quinta-feira, vem sendo acompanhada com relativa atenção no Brasil.
Em causa, sobretudo, a suposta recepção fria ao presidente brasileiro pela direita portuguesa, um assunto muito abordado nos jornais.
E essa "saia justa", para usar uma expressão local que significa "embaraço", foi causada por recentes declarações de Lula críticas à ação dos Estados Unidos e também da União Europeia no conflito na Ucrânia.
Observadores acreditam que, uma vez em território europeu, o presidente brasileiro corrigirá a trajetória e utilizará palavras mais simpáticas a Bruxelas e, por extensão, a Lisboa.
Em paralelo, vem sendo notada a relação próxima de Lula com os chefes de estado e de governo portugueses, em contraste com o seu antecessor Jair Bolsonaro, cujo cancelamento de um almoço com Marcelo Rebelo de Sousa em julho passado ainda é muito lembrado. O motivo daquele cancelamento, embora não tivesse sido oficializado, era precisamente um encontro entre Lula e Marcelo em São Paulo, às vésperas da reunião em Brasília com o então presidente.
Do ponto de vista estratégico, especialistas vêem Portugal como uma porta de entrada amiga para o Brasil na Europa, mercado que o governo Lula quer reforçar, através do restabelecimento dos acordos Mercosul-União Europeia. Nesse caso, a visita a Lisboa é vista como um terceiro vértice de um périplo iniciado nos Estados Unidos e prosseguido na China.
Lula, porém, sofre atribulações na política interna, o que pode condicionar o interesse dos jornalistas brasileiros que o acompanham. Na quarta-feira, perdeu um ministro, o general Gonçalves Dias, do Gabinete de Relações Institucionais, por terem sido divulgados vídeos dele nas invasões a Brasília de 8 de janeiro, aparentemente omitindo-se de defender o Planalto, uma das atribuições daquele ministério.