O recém-eleito director-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO está atento a casos de fome na Europa que resultam da grave crise financeira.
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Em entrevista à TSF, uma das primeiras que dá após ter sido eleito director-geral da FAO, cargo que passará a ocupar a 1 de Janeiro, José Graziano da Silva prometeu estar atento a uma nova realidade, o aparecimento de novos casos de subnutrição na Europa.
«É um mau resultado e até certo ponto inesperado no sentido em que a crise financeira se arrastou durante muito tempo», afirmou José Graziano da Silva, que já estabeleceu como prioridade a continuação do combate à fome em África.
O sucessor do senegalês Jacques Diouf espera que a crise seja ultrapassada e que os governos apliquem medidas preventivas em vez de recessivas, porque isso tem um impacto directo no consumo de alimentos.
Segundo o brasileiro responsável pelo programa "Fome Zero", que no Brasil deu de comer a 24 milhões de pessoas, «há uma tendência para quando os recursos diminuírem as pessoas cortarem os seus gastos variáveis», substituindo produtos de boa qualidade por de baixa qualidade.
Preocupado com o cumprimento das metas de redução da fome no mundo em 50 por cento traçadas no ano 2000 por vários países da ONU, José Graziano da Silva vê na incerteza do preço dos alimentos uma pedra na engrenagem da máquina que se comprometeu a tirar a fome a cerca de 400 milhões de pessoas.
«Temos um estudo que diz que apenas vamos ter preços elevados durante a proximal época, vamos ter muita volatilidade», o que se traduz em incerteza junto dos produtores, advertiu.
Uma das medidas para reduzir a especulação é a de desencorajar a produção de combustível a partir de cereais, os biocombustíveis, porque isso impulsiona o preço do milho.
Graziano da Silva entende que deve ser dada prioridade ao uso deste cereal na alimentação e que os governos, como o dos Estados Unidos, devem eliminar os subsídios para a produção deste tipo de combustível.
Outro dos desafios que o novo director geral da FAO tem pela frente é garantir o financiamento da estrutura que vai dirigir a partir de 1 de Janeiro.
Sem referir valores absolutos, Graziano da Silva disse que o orçamento aprovado na semana passada é 1,5 por cento superior ao do ano passado, mas ainda assim insuficiente.
Para assegurar a actividade da FAO, o brasileiro apelou à boa vontade dos países financiadores, em especial os Estados Unidos, que ameaçaram congelar as doações para o combate à fome.