Reconhecimento do Estado da Palestina: o que defendem os eurodeputados portugueses

Mohammed Huwais/AFP
Luís Montenegro disse, na segunda-feira, que o Governo português defende o reconhecimento da Palestina como Estado "num âmbito multilateral", no seio da UE e da ONU.
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A eurodeputada do PS Isabel Santos entende a posição "moderada" do Governo português, que só admite reconhecer o Estado da Palestina se esse for o entendimento global da União Europeia. Ouvida no Fórum TSF, a eurodeputada considera, no entanto, que tendo em conta o agravamento da situação Portugal deveria assumir outra atitude.
“Eu percebo esta posição moderada, no entanto, não acho que seja uma posição de maior rasgo face ao futuro. Eu preferia ver Portugal, desde já, a colocar-se no pelotão da frente dos países que vão reconhecer o Estado palestiniano. Devo dizer que a posição de maior moderação do anterior Governo também se devia muito à sua condição. Era um governo que nesta última fase estava já em gestão e, por isso, não lhe cabia, em matéria de política externa, tomar posições mais arrojadas. Penso que, nesta altura, quando temos um governo em plenas funções, poderíamos ter uma posição mais arrojada e isso seria um sinal positivo”, afirma.
Já o eurodeputado do Bloco de Esquerda José Gusmão critica a posição portuguesa e defende urgência no reconhecimento do Estado da Palestina.
“É uma posição estranha e contraditória. Portugal sempre teve historicamente um posicionamento nas Nações Unidas, independentemente dos governos, que foi no sentido da defesa do Estado da Palestina, incluindo mais de 100 resoluções que condenam a ocupação e os múltiplos atentados aos direitos humanos que Israel tem praticado durante décadas na Palestina”, refere.
“Por isso é que é tão difícil perceber que o Governo português não seja capaz – e o Governo que o antecedeu também - de avançar com essa iniciativa, que seria simbolicamente importante, sobretudo num quadro em que a União Europeia tem deixado muito a desejar do ponto de vista da condenação do massacre de Gaza”, sublinha.
Esta é uma posição também defendida pelo eurodeputado do PCP João Pimenta Lopes, que considera que o reconhecimento do Estado da Palestina é uma questão central no Médio Oriente.
“Nós temos defendido a questão do reconhecimento do Estado da Palestina por parte do Governo português, consumando aquilo que são resoluções da ONU que estão há muito aprovadas e que determinam a forma da consagração do Estado palestiniano”, diz.
O eurodeputado do PSD Carlos Coelho garante que Luís Montenegro segue o exemplo de António Costa.
“Esta posição não tem nada de diferente relativamente ao Governo anterior, recordo-me do Ministro dos Negócios Estrangeiros dizer, de forma clara, que ia alinhar a posição de Portugal com os restantes parceiros europeus. Acho que isso faz sentido. A União Europeia deve, na esfera internacional, ter uma posição concertada. Acho que isso é mais positivo, tem mais força e é mais saudável do que cada um por si”, adianta.
O eurodeputado do CDS Vasco Becker Weinberg partilha da ideia de Carlos Coelho e refere que a posição do Governo é sensata.
“A posição do primeiro-ministro Luís Montenegro é equilibrada e sensata e está de acordo com aquele que é o grande consenso internacional. A solução de dois Estados deve ter lugar no âmbito de negociações de paz que envolvam todas as partes e no âmbito de um amplo consenso multilateral, seja ao nível das Nações Unidas ou da União Europeia. O reconhecimento do Estado palestiniano acontecer desta forma precipitada levaria, no fundo, à criação de um Estado fundamentalista islâmico controlado pelo Irão. O que é preciso, verdadeiramente, é reiniciar negociações de paz e um processo de paz sustentável”, diz.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, disse na segunda-feira que o Governo português defende o reconhecimento da Palestina como Estado "num âmbito multilateral", no seio da União Europeia (UE) e da Organização das Nações Unidas (ONU).
"Não vamos tão longe como outros governos ainda no que diz respeito a um reconhecimento do Estado da Palestina porque sustentamos que esse entendimento deve ser construído num âmbito multilateral, no seio da União Europeia e no seio da Organização das Nações Unidas", afirmou Luís Montenegro, em Madrid, numa conferência de imprensa ao lado do líder do Governo de Espanha, Pedro Sánchez.
O primeiro-ministro espanhol já se comprometeu a reconhecer o Estado palestiniano até julho e tem tentado mobilizar outros países europeus para avançarem com a decisão em conjunto com o Governo de Madrid.
Luís Montenegro considerou que a posição dos governos de Portugal e de Espanha, neste momento, "não é assim tão distante", mas afirmou que não é a mesma.
"Respeitamos as diligências de todos os governos e, naturalmente, também do governo espanhol. A nossa posição não é assim tão distante, mas nesta ocasião, a verdade é que a consagração dos dois estados [Israel e Palestina], do nosso ponto de vista, deve ser construída num âmbito multilateral", disse Luís Montenegro.
O conflito em curso na Faixa de Gaza começou a 7 de outubro, quando os islamitas palestinianos do Hamas mataram 1200 israelitas, a maioria civis, num ataque surpresa no sul de Israel. Cerca de 250 pessoas foram feitas reféns pelo Hamas e levadas para Gaza.
Israel respondeu com bombardeamentos e ofensivas terrestres em Gaza que mataram mais de 33.700 palestinianos e feriram mais de 76.200, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.