Redação do Journal du Dimanche em greve pela nomeação de diretor ligado à extrema-direita
A chegada de Geoffroy Lejeune fez parar os jornalistas do semanário, que dizem não se rever nos valores e ideias do novo líder da publicação. O caso já mereceu até o comentário da ministra francesa da Cultura no Twitter.
Corpo do artigo
Começou na quinta-feira, foi renovada na noite deste sábado e promete manter-se pelo menos até quarta-feira: assim é a greve dos jornalistas do semanário francês Journal du Dimanche (JDD), que estão em luta contra a nomeação de Geoffroy Lejeune, ex-Valleurs actuelles (VA), como diretor do jornal.
Para a redação, a nomeação de Lejeune, um homem cujas ideias estão "em total contradição com os valores" do JDD, é uma "linha vermelha" que não pode ser pisada.
O mesmo é dito por um grupo de jornalistas de 30 redações francesas que apoiam a paralisação: "A nomeação de Lejeune, antigo responsável editorial do semanário de extrema-direita Valeurs Actuelles, cujo conteúdo de ódio foi condenado pelos tribunais, é incompatível com os valores que o Journal tem sustentado nos últimos 75 anos."
1672964733920526336
Outra leitura tem o líder do grupo Lagardère, dono do JDD: "O Geoffroy é um talento em bruto no jornalismo francês que não podíamos deixar escapar", defende Arnaud Lagardère na nota de imprensa em que oficializou a contratação de Lejeune. Apoiante de Eric Zemmour, candidato de extrema-direita às Presidenciais francesas do ano passado, a missão dada a Lejeune no JDD, lê-se no mesmo documento, é a de "encarnar a excelência jornalística, nomeadamente: os factos, a investigação e o dever de informar".
Acontece que, apesar de o JDD pertencer ao Lagardère, há um tubarão financeiro francês prestes a tomar conta deste grupo e, portanto, do jornal: o grupo Vivendi, do bilionário Vincent Bolloré, tido como ultraconservador em França. No país, os primeiros sinais de uma viragem do JDD à direita foram notados ainda com o anterior diretor, Jérôme Béglé - que vai para a revista Paris Match, também da Lagardère - e a redação temerá agora - escreve-se em França - ainda mais intervenção da direção na linha editorial.
Lejeune também não é alheio a controvérsias. Em novembro de 2022, a VA, de que era diretor editorial, foi condenada por insultos racistas devido a uma caricatura da deputada Danièle Obono, que surgia na publicação retratada como se fosse uma escrava, com correntes ao pescoço. Inicialmente condenado a pagar uma multa e uma indemnização a Obono, acabou por escapar à pena após um recurso.
A saída da revista acabou por acontecer no início deste mês de junho porque Lejeune entrou em rota de colisão com o dono do grupo a que a revista pertence, o Valmonde, de Iskandar Safa, e o novo responsável pela condução dos negócios, Jean-Louis Valentin.
Agora, recém-chegado ao JDD e com uma redação em tumulto contra a sua nomeação, Lejeune não passou sequer despercebido à ministra francesa da Cultura, Rima Abdul Malak, que no Twitter disse estar preocupada com os "valores republicanos".
"O meu ritual de domingo era acordar com o JDD. Hoje não apareceu. Entendo as preocupações da equipa editorial. Legalmente, o JDD pode ser o que quiser, desde que respeite a lei. Mas para os nossos valores republicanos, como não nos alarmarmos?", escreveu a governante no Twitter.
1672878824227237889
O tema promete fazer correr muito pouca tinta na redação do JDD, que estará parada pelo menos até quarta-feira, já que foi aprovado este sábado, com 98% dos votos, um prolongamento da greve inicial, que terminaria se a administração recuasse na nomeação de Lejeune.
1672653859540303872
Não aconteceu e, para já, o que se lê no site do jornal é simples: "Uma greve no Journal du Dimanche impede-nos de publicar a vossa edição de 25 de junho de 2023 na sua versão digital e na sua versão em papel, assim como a JDD Magazine."
Quem assina é "a Direção".