Reforço do "alinhamento" bélico da UE ou "compromisso diplomático"? Visita de Costa a Kiev divide eurodeputados
A visita de António Costa à Ucrânia, no seu primeiro dia em funções como presidente da Comissão Europeia, subiu a debate no Fórum TSF
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O novo presidente da Comissão Europeia, António Costa, escolheu viajar até à capital ucraniana, Kiev, no primeiro dia em funções, para reafirmar o apoio da União Europeia ao país. As opiniões dos eurodeputados portugueses relativamente a esta iniciativa dividem-se no Fórum TSF: ao passo que uns argumentam que esta é uma "decisão simbólica", outros lamentam a inação da União Europeia no que diz respeito a "propor negociações para a paz".
O eurodeputado do PS Francisco Assis aplaude a iniciativa de António Costa, defendendo que a "Europa está a ficar para trás", sobretudo do ponto de vista económico.
"A nossa capacidade de inovação, por comparação com outras zonas do mundo, em particular os EUA e a China, é limitada. A nossa capacidade de transformar poupanças em investimento, por comparação com a economia americana, é baixa. Os europeus até têm uma taxa de poupança superior aos americanos, mas, depois, não conseguem transformar isso em investimento", destaca, acrescentando que este é um "dos grandes desafios" impostos ao continente.
Quem partilha da mesma opinião é o eurodeputado do PSD Sebastião Bugalho, que entende que esta é uma "decisão politicamente certa e simbólica, mas que tem todo o sentido".
O social-democrata destaca que Costa não foi a Kiev sozinho. As escolhas de quem levou ao seu lado reforçam a "componente do significado político" e até daquilo que poderá ser presenciado nos próximos meses, nomeadamente, "do tipo de paz" que pode ser alcançada.
"António Costa, indo com a alta representante para a política externa e o vice-presidente da Comissão Europeia, que, sendo da Estónia, tem uma sensibilidade muito particular em relação à resolução do conflito porque o país dela está mesmo ali ao lado. Tendo levado consigo também a comissária para o alargamento, Marta Kos, que é eslovena, mostra-nos que não só temos um compromisso do ponto de vista diplomático, militar e de segurança, como temos a vontade de manter um compromisso a nível do conselho, isto é, dos chefes de Governo, que António Costa representa, como também do ponto de vista do alargamento", explica.
Já Catarina Martins, do BE, lamenta que nesta visita não se tenha falado de paz, apesar de o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já ter "dado sinais de que gostaria que houvesse uma iniciativa diplomática" para um cessar-fogo.
"A União Europeia nunca propôs nenhum tipo de negociações para a paz. Países como a Turquia propuseram, por exemplo, mas foi recusado pelos EUA. Outros países já propuseram", critica. A eurodeputada cita também Zelensky para ressalvar que "sem diplomacia, também não haverá caminho para a paz".
O eurodeputado comunista João Oliveira deixa a mesma crítica, já que considera que o Parlamento Europeu tem canalizado a perspetiva "para o militarismo e para a guerra nas suas diversas dimensões". Justifica este argumento com a aprovação na semana passada do orçamento que prevê o investimento no valor de 21 mil milhões de euros para este setor.
"O Parlamento Europeu aprovou, nos últimos meses, duas resoluções a apontar na perspetiva de - e as palavras são estas - continuação da guerra na Ucrânia, pelo tempo que for preciso. Continuar a guerra na Ucrânia, pelo tempo que for preciso, é sacrificando mais vidas, o povo ucraniano, impondo mais destruição e impondo o desvio de verbas para a guerra", ressalva. João Oliveira acredita que a visita de António Costa a Kiev prova o seu "alinhamento" com um caminho que não é o da diplomacia.
Pelo Chega, o eurodeputado António Tanger Corrêa defende que existem outros assuntos que são mais prioritários do que "os perigos externos", afirmando que o atual "descrédito e impaciência das populações relativamente às instituições europeias" é ainda mais grave.
"Acham que os seus interesses não estão a ser considerados, que há grande diferença e distância entre os cidadãos europeus e os políticos. E essa dissociação é muito má", vinca.
O eurodeputado entende, por isso, que o "primeiro trabalho" deveria passar por ir ter com os cidadãos, a fim de transmitir-lhes "confiança e dizer que a UE está do lado deles e não contra eles".
António Tanger Corrêa considera mesmo que a posição atual da União Europeia, que dá a entender que se "interessa por tudo, menos pelo interesse dos seus próprios cidadãos", é "o maior perigo" enfrentado atualmente.
