Berlim quer contribuir para que a tensão entre Rússia e Ucrânia não se agrave e propõe mediação franco-alemã no conflito.
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O Reino Unido acusou, esta segunda-feira, a Rússia de "ato de agressão" por ter apresado navios e marinheiros ucranianos, perto da Crimeia.
O porta-voz do governo britânico, James Slack, disse esta segunda-feira que o incidente é "mais uma prova do comportamento desestabilizador da Rússia na região e da sua contínua violação da integridade territorial ucraniana".
Para o governo de Theresa May, "a Rússia não deve usar a força para exercer mais pressão sobre a Ucrânia".
O Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, já pediu para que a Rússia liberte imediatamente os navios e a tripulação, apresados pela Rússia.
As declarações de Poroshenko acrescentam-se à escalada de tensão à volta do incidente de domingo, quando a guarda-costeira da Rússia abriu fogo sobre três navios ucranianos, perto do estreito de Kerch, junto à Crimeia.
A Rússia considera que os navios estavam em águas russas, a Ucrânia diz que estavam em águas neutras.
O Presidente ucraniano assinou hoje um decreto em que declara o estado de exceção em todo o país.
Inicialmente, o estado de exceção ficaria em vigor por 60 dias, até 25 de janeiro de 2019, embora pudesse ser levantado a qualquer momento, segundo explicou o Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia (CSNDU).
Perante pressões dos adversários internos, Poroshenko diminuiu o horizonte temporal da medida de lei marcial para 30 dias, até final de dezembro, para que as eleições presidenciais possam ser marcadas nessa altura, podendo realizar-se no final de março, como previsto.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, já reagiu, criticando hoje a decisão da Ucrânia e pedindo aos parceiros ocidentais em Kiev para que "acalmem" as autoridades ucranianas.
O Ministério das Relações Exteriores russo expressou o seu "forte protesto" pelo comportamento da Marinha ucraniana, que acusou de encenar uma provocação para incitar tensões na área, que possam levar a novas sanções contra a Rússia.
O decreto presidencial ucraniano, que não se traduz na mobilização obrigatória de tropas, terá ainda de ser aprovado pelo Rada Suprema, o parlamento da Ucrânia.
Poroshenko, que assinou o decreto depois de conversar com o secretário-geral da Nato, Jens Stoltenberg, afirmou igualmente que o estado de emergência agora decretado não significa a introdução de restrições aos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.
Berlim propõe mediação franco-alemã
A Alemanha e a França podem fazer a mediação entre a Ucrânia e a Rússia para evitar que a tensão entre os dois países se agrave, propôs hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Mass.
O ministro referiu que uma reunião com a Rússia e a Ucrânia, há muito prevista e que se realiza hoje em Berlim, pode ser a ocasião para Paris e Berlim "desenvolverem esforços conjuntos, e se necessário como mediadores, para que este conflito não leve a uma crise grave".
Mass, que falava à imprensa em Madrid após um encontro com o homólogo espanhol, Josep Borrell, referia-se a uma reunião dos diretores políticos dos Negócios Estrangeiros dos quatro países, hoje à tarde na capital alemã, a qual, disse o ministro, é "a primeira ocasião de reunir as partes em conflito".
O ministro alemão frisou que a tensão no leste da Ucrânia e na Crimeia "são um perigo para a segurança da Europa" e que se justificam todos os esforços "para chegar por fim a uma solução política que devia ter sido encontrada há muito tempo".
A diplomacia alemã já tinha pedido hoje a restituição dos navios ucranianos apresados pela Rússia e a libertação dos marinheiros capturados pela Marinha russa no mar de Azov, situado entre a Ucrânia e a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
França também apelou hoje para a libertação dos marinheiros e a restituição dos navios apresados, afirmando, através de um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que "nada parece justificar o emprego da força pela Rússia".