Relator da ONU diz que resposta internacional à situação em Myanmar é "insuficiente"
Nações Unidas exortam a comunidade internacional a realizar uma cimeira de emergência para discutir a situação no país.
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O relator especial da ONU sobre Myanmar alertou hoje que a resposta internacional à situação política birmanesa após o golpe militar de fevereiro é insuficiente e pouco robusta e pediu a realização de uma cimeira internacional de urgência.
"As condições de vida em Myanmar [antiga Birmânia] deterioram-se, e arriscam-se a piorar caso a comunidade internacional não reaja imediatamente e vigorosamente", declarou Tom Andrews em comunicado.
As sanções impostas por diversos Estados "não impediram o acesso da junta militar às remunerações que contribuem para apoiar as suas atividades ilegais, e a lentidão da diplomacia está desajustada da amplitude da crise", considerou.
Este sistema de sanções progressivas "deve ser substituído por uma ação robusta, incluindo uma ofensiva diplomática", segundo o perito norte-americano.
A junta militar tenta por todos os meios eliminar os protestos contra o golpe de Estado que derrubou o Governo civil de Aung San Suu Kyi e que prosseguem no país asiático.
Segundo a Associação de assistência aos presos políticos (AAPP), cerca de 290 civis foram mortos desde 01 de fevereiro. O balanço pode ser mais elevado, com centenas de pessoas detidas consideradas desaparecidas.
Andrews sublinhou que recebe relatórios indicando que a situação em Myanmar se arrisca a ficar ainda mais incontrolável.
Defendeu a instauração de uma "solução diplomática direcionada", incluindo a organização de uma cimeira de urgência que reúna os países vizinhos de Myanmar e os que possuem importante influência na região, incluindo Estados Unidos, China e União Europeia.
Esta cimeira, detalhou o relator, deverá reunir "todas as partes envolvidas, incluindo os deputados eleitos e ilegalmente destituídos e que formaram o Comité Representativo Pyidaungsu Hluttaw (CRPH)", um parlamento sombra constituído por eleitos que passaram à clandestinidade.
"É essencial que o povo da Birmânia, o CRPH e os dirigentes e militantes da oposição observem que a comunidade internacional se esforça por encontrar uma solução diplomática ao apoiar um movimento pacífico de desobediência civil. Este plano de ação combinado - resistência pacífica nacional, pressão sustentada e envolvimento diplomático - terá mais hipóteses de sucesso do que pegar em armas e salvará um número incalculável de vidas", assegurou ainda o relator especial.
No entanto, apelou aos países para agiram face à deterioração da crise. "Receio que a comunidade internacional apenas tenha muito pouco tempo para agir", insistiu.
Pouco após os apelos de Andrews, o chefe da diplomacia de Londres, Dominic Raab, anunciava novas sanções contra a junta militar birmanesa e dirigido a um consórcio detido pelos militares, a quem acusou de "violações graves dos direitos humanos".
"As sanções de hoje visam os interesses financeiros do exército, com o objetivo de ajudar a travar as fontes de financiamento das suas campanhas de repressão contra os civis", declarou Dominic Rabb no comunicado que anuncia as sanções contra o consórcio Myanmar Economic Holdings.