"Relembrar atentado é revisitar um trauma." Dez anos depois, Charlie Hebdo continua "indestrutível"
No dia 7 de janeiro de 2015, doze pessoas morreram no ataque terrorista à redação do Charlie Hebdo, incluindo cinco dos mais conhecidos cartoonistas do jornal. Dez anos depois, o Charlie Hebdo continua sob proteção máxima, com 70 a 80 polícias a proteger os escritórios e os jornalistas
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O dia 7 de janeiro de 2015 ficou gravado nas memórias como o dia em que doze pessoas morreram no atentado contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo. Entre as vítimas, encontravam-se cinco dos mais emblemáticos cartoonistas da publicação: Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski.
Os irmãos Chérif e Saïd Kouachi, franceses de origem argelina, invadiram a redação e abriram fogo. Poucas horas depois, reivindicaram o ataque em nome da Al-Qaeda.
Para Philippe Val, antigo diretor do jornal, publicar as caricaturas de Maomé era "uma questão de sobrevivência da liberdade de imprensa". Contudo, "relembrar o atentado é revisitar um trauma" com o qual tem de viver. "É uma sensação física, viver uma coisa destas. É uma violência física e psíquica… e nunca conseguimos realmente livrar-nos dela – vivemos com isso. Mas, ao mesmo tempo, tento transformar isso em força. Dá-me força para continuar e ser ainda mais combativo: aquilo que nos infligiram, a violência que me infligiram, dá-me ainda mais determinação para lutar com mais garra", descreve.
Depois do atentado, seguiram-se dois dias de perseguição aos terroristas, que foram abatidos numa gráfica em Dammartin-en-Goële, na região parisiense, onde se tinham barricado.
O massacre deixou cicatrizes na sociedade francesa e marcou a história da liberdade de imprensa. Marika Bret, antiga diretora de recursos humanos do jornal, que vive há dez anos sob proteção policial, recorda o momento em que soube do ataque. "Gritei. Gritei como nunca na minha vida, gritei como espero nunca mais gritar na minha vida… porque não conseguia imaginar que isto tivesse acontecido desta forma. E, por outro lado, sabia que isto podia acontecer. O Charb estava a ser ameaçado há anos", recorda.
O atentado de 2015 não marcou o fim da violência. Em 2020, um ataque à faca feriu dois funcionários de uma agência de notícias perto dos antigos escritórios do jornal. O autor do ataque foi condenado e enfrenta prisão perpétua.
Esta semana, o Presidente francês, Emmanuel Macron, relembrou os dez anos de combate contra o terrorismo. "Dez anos... Durante estes dez anos, levámos a cabo o combate contra o terrorismo, com um trabalho notável realizado por todos os serviços – a DGSE, a DGSI, os serviços de polícia e de gendarmaria. Os nossos magistrados também contribuíram para enfrentar a ameaça e garantir a segurança dos nossos cidadãos.Adaptámos o nosso arsenal legislativo, a nossa organização e os nossos meios, e investimos em meios", declarou.
Dez anos após o atentado que abalou o mundo, o Charlie Hebdo continua sob ameaça constante, com os seus escritórios ainda escondidos. Diariamente, entre 70 e 80 polícias garantem a proteção dos jornalistas e das instalações.
A publicação que assinala o décimo aniversário do ataque tem como título: "Charlie Hebdo - indestrutível", um grito de resistência e liberdade que resiste, diante do medo e da intimidação.
