Reportagem TSF na Ucrânia. "Bogdan", a sauna sobre rodas que vai a caminho da frente de guerra
É um pequeno autocarro amarelo adaptado para sauna em Odessa e que está prestes a receber guia de marcha para a frente de guerra. E há mais em remodelação.
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Um dos principais meios de transporte na Ucrânia são uns pequenos autocarros amarelos com capacidade para 15 pessoas. Em todo o país são conhecidos como Bogdan. Um modelo construído na Ucrânia com patente de uma marca japonesa. Em Odessa são também conhecidos como saunas por culpa do calor que se sente no verão. Ironias à parte, na cidade do mar negro há um que se distingue de todos os outros. É branco e tornou se mesmo numa sauna.
Stanislav Madens, de 33 anos, é conhecido por ser uma das vozes mais ativas na denúncia de casos de corrupção em Odessa. Habituado a enfrentar políticos como o antigo presidente da câmara, a guerra trouxe-lhe novas preocupações. O ativista promete agora combater o frio que se faz sentir no leste da Ucrânia, onde nesta altura a temperatura média ronda os 15 graus negativos. Stanislav Madens decidiu readaptar um velho Bogdan.
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"O autocarro foi totalmente equipado para responder às necessidades das nossas Forças Armadas. Com o início do inverno, as condições na frente leste deterioram-se muito", assegura enquanto mostra à TSF o que em tempos foi o pátio de uma fábrica de automóveis soviética. Estão 4ºC e a ameaçar nevar, mas os ucranianos dizem que não está frio.
Vamos por partes: no tejadilho há depósitos de água, que vão servir também para abastecer a cabine de duche dupla, e uma chaminé por onde sai o fumo da caldeira de aquecimento. Uma espécie de forno que existe na lateral da carrinha.
Na traseira, o miniautocarro transporta agora uma caixa com lenha que dá para poucas semanas. Mas a caldeira funciona com tudo o que arde. "Talvez se possam pôr lá soldados russos", atira Stanislav, numa ironia nervosa. O interior, como o de quase todas as saunas, é revestido a madeira.
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Vídeo: Sara Gerivaz (JN)
O primeiro projeto está concluído e vai receber guia de marcha para a linha da frente, já na próxima semana. Mas, no interior de um armazém ali ao lado, está já a nascer o próximo.
Habituado a desenvolver jogos de computador, Vadym Herbanovskyi, de 27 anos, procura agora ideias para financiar o próximo desafio: um camião isotérmico, ainda verde tropa e matrícula polaca, com capacidade para carregar mais de 3500 kg. Vai ter três máquinas de lavar fardas e seis duches. "Os soldados vão às máquinas de lavar, deixam aqui os pertences, tomam um duche, vestem a farda", e estão prontos a combater, acrescentamos nós. A conversa é interrompida pelo barulho das rebarbadoras que vão dando forma à sauna.
Nesta altura, trabalham no camião cinco pessoas em permanência. As mudanças vão custar cinco mil euros. "Devemos conseguir os donativos que faltam nos próximos dias", arrisca o responsável pelas angariações da "Nekhai Shchastyt" (em tradução livre, "Que tenhas sorte"), a organização não-governamental liderada por Stanislav Madens. Se for assim, daqui por três ou quatro semanas também o camião polaco deve chegar à frente.
Vadym conta que decidiu juntar-se à equipa a pensar no melhor amigo. Que por estes dias combate perto de Bakhmut. "Tudo o que seja necessário para manter o pessoal saudável e sobretudo vivos. Neste momento não sou um soldado, mas a qualquer instante o meu momento pode chegar", explica, sem esconder a angústia. Afinal de contas, desde o início da guerra, mais de um milhão de ucranianos já foram mobilizados.
