O caso tem 86 anos e envolve um terreno situado numa zona rural a cerca de 32 quilómetros de Berlim. A propriedade de Wandlitz é provavelmente um dos últimos casos de restituição de bens a ser julgado na Alemanha
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Uma mulher de 85 anos vai ter de abandonar a casa onde nasceu e viveu, na Alemanha, já que a propriedade pertencia a duas mulheres judaicas que, em 1939, foram obrigadas a vender o terreno onde tinham construído um orfanato. Segundo a lei do país, a venda não é válida porque foi feita sob coação.
O caso tem 86 anos e envolve um terreno situado numa zona rural a cerca de 32 quilómetros de Berlim. A propriedade de Wandlitz é provavelmente um dos últimos casos de restituição de bens a ser julgado na Alemanha.
Nos anos 30 era usada como retiro de verão para um orfanato dirigido por duas mulheres judias, Alice Donat e Helene Lindenbaum. Cumprindo as leis nazis que expropriaram todos os bens dos judeus, as duas mulheres venderam o terreno a Felix Moegelin.
Em 1939, foi pago um valor de 21.100 marcos do reich, um valor que é considerado uma ninharia. Na escritura, Moegelin teve de assinar uma declaração a confirmar a sua ascendência ariana, enquanto Alice e Helene tiveram de declarar que eram judias. Estavam assim cumpridas as leis de Nuremberga de 1935.
As duas mulheres foram deportadas em 1943 e acabaram por ser mortas nos campos de concentração. A família Moegelin destruiu a estrutura original, construiu uma casa e foi para lá viver.
A propriedade nunca foi reivindicada, mas a lei obriga a que seja transferida para o Estado e depois entregue à Conferência de Reclamações Materiais Judaicas.
A casa está avaliada atualmente em um milhão e 600 mil euros.
A neta do comprador original, Gabriele Lieske, tem agora 85 anos e vive na propriedade com o filho de 61 anos. Os dois dizem não ter para onde ir, mas já não existem mais recursos legais.
O advogado dos dois alemães ainda invocou uma lacuna legal que permite ao Governo alemão pagar uma parte da indemnização a atuais proprietários de antigas propriedades judias, mas só no caso de as terem comprado e não herdado. O juiz não aceitou os argumentos apresentados.
A conferência de reivindicações que vai ficar com a propriedade ofereceu-se para deixar Gabriele Lieske, de 85 anos, permanecer como inquilina na casa de infância para o resto da sua vida, mas a oferta foi recusada, uma vez que não quer pagar renda.