O anúncio do vencedor acontece numa altura particularmente sensível, poucas semanas após a extradição e prisão preventiva do português Rui Pinto, depois deste ter divulgado informação relativa ao mundo do futebol.
Corpo do artigo
O português Rui Pinto, Julein Assange e Yasmine Motarjem vencem prémio da esquerda europeia para denunciantes.
Pelo segundo ano consecutivo, o Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde nomeou um conjunto de seis personalidades, entre "Jornalistas, Denunciantes e Defensores do Direito à Informação", mas os organizadores do prémio dizem que a lista original era ainda mais extensa.
"O que é verdadeiramente curioso é que nos chegaram 100 propostas. É realmente curioso que haja tantas pessoas que tenham de jogar a própria vida para que tenhamos acesso à informação", notou o eurodeputado do Podemos, Miguel Urbán Crespo, em Declarações à TSF e ao DN, frisando que "sem essas pessoas (...) não teria havido as comissões de inquérito do Parlamento Europeu", a casos como o "LuxLeaks" ou os "papéis do Panamá".
"Entendemos que as três pessoas o mereciam o prémio. Julian Assange também está detido e com risco de ser extraditado para os Estados Unidos. Ele permitiu-nos conhecer muitíssimas coisas, mas as mais importantes foram os crimes de guerra, que se praticaram no Iraque", disse que Miguel Urbán Crespo, eurodeputado do Podemos, em declarações à TSF e ao DN.
Destacando o papel de Rui Pinto nas denúncias do mundo do futebol, Miguel Urbán Crespo salientou que "se permitimos que essas pessoas que apostaram a própria vida para mostrar a verdade, pelo direito à informação e pela democracia, não forem protegidas, o que estamos a fazer é com que não volte a haver denunciantes"
A outra vencedora este anos é Yasmine Motarjemi, que foi funcionária da Organização Mundial para a Saúde, antes de ser contratada pela Nestlé. Motarjemi tornou-se ativista pelos direitos humanos, tendo feito denúncias, que levantam dúvidas sobre questões de segurança alimentar na ex-vice-presidente e denunciante dos lapsos de segurança alimentar da parte da gigante da indústria alimentar.
No ano passado, o prémio foi entregue em conjunto ao jornalista eslovaco assassinado, Ján Kuciak e denunciante da LuxLeaks, Raphaël Halet e a Daphne Caruana Galizia. O vencedor recebe um montante pecuniário de 5000 euros.
Pelo segundo ano consecutivo, o Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde nomeou um conjunto de personalidades, entre "Jornalistas, Denunciantes e Defensores do Direito à Informação".
Momento sensível
O anúncio do vencedor acontece numa altura particularmente sensível, poucas semanas após a extradição e prisão preventiva do português Rui Pinto, depois deste ter divulgado informação relativa ao mundo do futebol. As autoridades judiciais de vários países europeus têm recorrido aos dados postos a nu pelo hacker português, para promoção de várias investigações, entre as quais os casos de fuga ao fisco, em que são implicados, nomeadamente, Ronaldo e José Mourinho.
Outro dado novo, que vira os holofotes para o anúncio que a esquerda parlamentar europeia fez esta tarde, em Estrasburgo, é a prisão de Julien Assange. O fundador do Wikileaks foi expulso na semana passada, das instalações da Embaixada do Equador, em Londres, onde se encontrava exilado 2012. Assange foi imediatamente detido pela polícia britânica, e aguarda decisões que o podem levar à extradição para os Estados Unidos, onde é acusado de conspiração, ou para a Suécia, onde pende sobre ele uma acusação de natureza sexual.
A iniciativa tem como ponto de partida, o principio de que existem "perigos" associados ao trabalho de "jornalista, denunciante ou defensor do direito à informação" e de que "o direito à informação e aos direitos humanos andam de mãos dadas".
A organização lamenta que "no coração da União Europeia", não haja "garantias de segurança para denunciantes ou jornalistas" e as "intimidações, ameaças, desafios legais e coisas piores" sejam pratica comum.
"Os assassinatos dos jornalistas de investigação Daphne Caruana Galizia e Ján Kuciak nos últimos anos, e o caso contra o denunciante da LuxLeaks, Antoine Deltour", demonstras que "a legislação da União Europeia oferece muito pouco em termos de proteção dos direitos humanos", lamentando os organizadores do prémios, numa nota divulgada em Bruxelas, em que salienta que "[denunciantes] possuem redes de apoio; outros trabalham de forma independente e não têm proteção além do estado de direito".
Sem mencionar o caso de Rui Pinto, a mesma nota frisa que "repetidas vezes, jornalistas e denunciantes são levados a tribunal por governos, processados por corporações multinacionais e agora, com uma frequência alarmante, são assassinados em plena luz do dia por fazerem os seus trabalhos".
"Ao silenciar suas vozes, torna o público menos informado, enquanto as elites e os governos mantém os seus segredos sujos - e o dinheiro - privados", podem ainda ler-se no mesmo texto em que adverte para o fenómeno que "está a acontecer na Europa" e chama a atenção para a "comparação" que pode "imaginar-se" noutros lugares do globo, como "o Irão, a China, a Arábia Saudita, a Eritreia, o México ou até mesmo nos Estados Unidos".
O Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde pretende ainda chamar a atenção para a "necessidade de proteção" para "jornalistas, denunciantes e defensores do direito à informação", como forma de "defesa dos direitos e valores democráticos".
Quem eram os outros nomeados?
A antiga funcionária do Conselho para a Cidadania búlgara, Katya Mateva, em 2016, denunciou esquemas de atribuição de vistos gold do Ministério da Justiça búlgaro. Um vice-primeiro ministro, um ministro e um eurodeputado búlgaro estão alegadamente lidados ao esquema que está a ser investigado na Bulgária.
Luis Gonzalo Segura, é ex-tenente do Exército espanhol. Foi expulso por denunciar corrupção, abusos e privilégios. Em 2017, analisou o contexto da instituição que serviu durante vários anos. O resultado dessa análise foi a publicação do ensaio "O livro negro do exército espanhol".
Em 2013, Howard Wilkinson avisou a administração do Danske Bank sobre um esquema de lavagem de dinheiro sem precedentes, que alcançava os 200 mil milhões de euros. Wilkinson foi diretor de mercados em Danske, na Estónia, entre 2007 e 2014. No final de 2013, chamou a atenção dos gestores de que o banco estava a violar normas de funcionamento e a comportar-se de forma antiética".