O pirata informático foi também o responsável pelo escândalo "Footbal Leaks".
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O hacker Rui Pinto assumiu, esta segunda-feira, que foi o responsável pela revelação das informações que incriminam a empresária angolana Isabel dos Santos no caso Luanda Leaks.
O pirata informático, que já tinha estado por trás do escândalo "Footbal Leaks", foi a pessoa que entregou à Plataforma de Proteção de Denunciantes na África (PPLAAF) um disco externo com toda a informação sobre os negócios fraudulentos da filha do antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, de acordo com um comunicado assinado pelos advogados de Rui Pinto, citado pela agência Lusa.
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"Os advogados abaixo assinados [Francisco Teixeira da Mota e William Bourdon] declaram que o seu cliente, o Sr. Rui Pinto assume a responsabilidade de ter entregue, no final de 2018, à Plataforma de Proteção de Denunciantes na África, um disco rígido contendo todos os dados relacionados com as recentes revelações sobre a fortuna de Isabel dos Santos, sua família e todos os indivíduos que podem estar envolvidos nas operações fraudulentas cometidas à custa do Estado angolano e, eventualmente, de outros países estrangeiros", refere o comunicado.
Segundo a nota divulgada, Rui Pinto "procurou, assim, ajudar a entender operações complexas conduzidas com a cumplicidade de bancos e juristas que não só empobrecem o povo e o Estado de Angola, mas podem ter prejudicado seriamente os interesses de Portugal". Os advogados sublinham que em causa está aquilo que o hacker entendeu ser "um dever de cidadania", e pelo qual não recebeu qualquer contrapartida.
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"Está feita a prova de que, sem as imensas revelações de Luanda Leaks, tornadas possíveis graças ao nosso cliente, as autoridades reguladoras, policiais e judiciais nada teriam feito. Graças ao nosso cliente, os cidadãos portugueses e o mundo têm acesso à verdade de um extraordinário sistema de predação e corrupção, gravemente prejudicial para Portugal, Angola e outros países", escrevem Francisco Teixeira da Mota e William Bourdon.
Os advogados de Rui Pinto mostram-se, no entanto, receosos de que o caso Luanda Leaks seja utilizado para aumentar a penalização sobre o hacker, que está em prisão preventiva desde março de 2019 e prestes a ser julgado no caso "Footbal Leaks".
"A responsabilidade das autoridades é agora agir e abrir as investigações necessárias - já abertas em Angola - e ao mesmo tempo recuperar elevadas somas de dinheiro. Mas é preciso dizer que são as mesmas autoridades portuguesas que mantêm Rui Pinto na prisão há quase um ano, sob o pretexto de uma tentativa de extorsão, e que, até este momento, apenas pediram a sua colaboração com o exclusivo intuito de o auto-incriminar", apontam.
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Questionada pela TSF, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais refere não ter conhecimento das declarações prestadas por Francisco Teixeira da Mota e esclarece que não comenta as afirmações de advogados de reclusos.
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O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação divulgou, a 19 de janeiro, um alegado esquema levado a cabo pela empresária angolana Isabel dos Santos que, com o marido e intermediários, terá organizado uma rede de empresas-fantasma que permitiram o desvio de milhares de milhões de euros, incluindo dos cofres públicos angolanos.
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Durante a investigação foram identificadas mais de 400 empresas (e respetivas subsidiárias) a que Isabel dos Santos esteve ligada nas últimas três décadas, incluindo 155 sociedades portuguesas e 99 angolanas. As informações recolhidas detalham, por exemplo, um esquema de ocultação montado por Isabel dos Santos na petrolífera estatal angolana Sonangol, que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para o Dubai.
Notícia atualizada às 9h41