O embaixador russo na ONU ripostou, apontando o dedo aos EUA e aliados.
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"Cinismo" e "aproveitamento" foram algumas das palavras usadas para definir a ação da Rússia à frente do Conselho de Segurança da ONU. Depois de um primeiro debate sobre crianças em conflitos, que foi bloqueado na Internet e boicotado por diversos países, o tema da discussão desta segunda-feira foi "violações de acordos que regulam a exportação de armas".
Apesar de ter garantido que o debate nada tinha a ver com a Ucrânia, o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, rapidamente apontou o dedo aos EUA e aliados. Acusou o ocidente de não querer acabar com a guerra por estar a enriquecer os fabricantes de armas e a defender a estratégia que tem para o mundo. Uma ação que o embaixador classificou como uma violação das normas internacionais e garantiu que a situação na Ucrânia é da responsabilidade do ocidente.
Além disso, o representante de Moscovo defendeu que a "ação irresponsável dos EUA e aliados" já aconteceu noutros pontos do mundo e que as armas entregues acabaram por cair nas "mãos de terroristas, do crime organizado ou no mercado negro". E recusou acusações de que há países a venderem armas a Moscovo.
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Os EUA foram o primeiro país a responder e acusaram a Rússia de ter começado a presidência do Conselho de Segurança a tentar justificar o "rapto de crianças" e agora tentar apresentar-se como "defensora do controlo de armas", querendo esquecer o facto de ter invadido um país vizinho. O representante norte-americano defendeu ainda que o exemplo da Ucrânia nada tem a ver com exportação de armas ou entrega ilegal, tratando-se apenas de uma situação de auto-defesa.
"O conflito na Ucrânia não faz parte de um sistema de exportação de armas. A Ucrânia foi invadida e tem todo o direito de se defender", explicou o embaixador norte-americano.
Do lado dos EUA defende-se a ideia de que a comunidade internacional tem "todo o direito de apoiar a Ucrânia", mas o mesmo não acontece com a Rússia, segundo a embaixadora do Reino Unido na ONU, Barbara Woodward. Ao receber armas do Irão e da Coreia do Norte, o país de Putin está a violar sanções que ajudou a aprovar. A representante de Londres apelou ainda para que ninguém forneça armas a Moscovo.
A embaixadora britânica disse ainda que a Rússia está atualmente a "defender os acordos de controlo de exportação e importação de armas", mas tem boicotado os trabalhos para melhorar esses entendimentos. Da parte de França, o representante de Paris, Nicolas de Rivière, lembrou que se a Ucrânia precisa de armas é por causa da agressão russa e lamentou a tentativa de aproveitamento político que Moscovo está a fazer.
O embaixador francês acusou ainda a Rússia de "cinismo" por estar a defender alguns acordos aos quais nem aderiu. Já a Polónia, que esteve presente apesar de não fazer parte do Conselho de Segurança, referiu que a Rússia entrega, sem qualquer preocupação, armas aos mercenários do grupo Wagner.
Nesta reunião que durou mais de duas horas, vários estados colocaram-se ao lado de Moscovo. Entre eles a China, que disse que vender armas para zonas de conflito é juntar gasolina ao fogo e defendeu que a entrega ou comercialização de armamento para defender os próprios interesses geopolíticos devia ser proibida.
Também a Bielorrússia e o Irão saíram em defesa de Moscovo e da própria atuação da Rússia no conflito da Ucrânia, criticando duramente o ocidente.