De acordo com o embaixador russo na ONU, o relatório da Agência Internacional de Energia Atómica é uma "confirmação" de que a "única ameaça" contra a central veio de "bombardeamentos e sabotagem pelas forças armadas ucranianas".
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O embaixador russo na ONU lamentou na terça-feira que o relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) não responsabilize a Ucrânia pela autoria dos bombardeamentos junto à central nuclear de Zaporijia.
"Lamentamos que no seu relatório (...) a origem destes bombardeamentos não tenha sido identificada diretamente", afirmou Vasily Nebenzia numa reunião do Conselho de Segurança, em Nova Iorque.
De acordo com o diplomata russo, o documento, apresentado remotamente pelo chefe da AIEA na reunião, é uma "confirmação" de que a "única ameaça" contra a central veio de "bombardeamentos e sabotagem pelas forças armadas ucranianas".
"Entendemos a sua posição (...) mas na situação atual, é importante chamar as coisas pelo seu nome", insistiu Vasily Nebenzia.
Alguns minutos antes, o chefe da AIEA, Rafael Grossi, denunciou, por videoconferência, que a integridade física da central nuclear "continua a ser violada", descrevendo como "inaceitável" o facto de o local ter sido um alvo.
"Estamos a brincar com o fogo", alertou Grossi, indicando que entrará em contacto "muito em breve" com todas as partes para discutir "passos concretos" no sentido da criação da zona segura recomendada no relatório.
A AIEA exigiu hoje o estabelecimento de uma "zona de segurança" em redor da central nuclear ucraniana de Zaporijia, ocupada pelos russos, para evitar um acidente grave.
"A situação atual é insustentável", escreve o órgão das Nações Unidas no relatório de 52 páginas.
O órgão de fiscalização nuclear da ONU observa também as condições de trabalho "extremamente 'stressantes'" em que os funcionários ucranianos se encontram na central, ocupada pelas tropas russas e desligada da rede elétrica ucraniana desde a tarde de segunda-feira.
A Ucrânia e a Rússia acusam-se mutuamente de ataques contra a central, que têm feito recear um desastre nuclear.
Após esforços diplomáticos, uma delegação da AIEA teve acesso na semana passada às instalações e teve a oportunidade de constatar a situação no terreno.
Desde segunda-feira, dois inspetores estão permanentemente na central nuclear ucraniana de Zaporijia, após outros seis especialistas que fizeram inspeções nos últimos dias terem abandonado o local.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que entrou hoje no seu 195.º dia, 5.718 civis mortos e 8.199 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.