Sánchez admite tropas espanholas em Gaza para reconstruir enclave e quer "atores do genocídio" na Justiça
O chefe do Governo espanhol adianta que o país "quer estar e quer ter uma presença ativa" não apenas na reconstrução do enclave, mas também na definição de um "horizonte de paz" na região
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O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, admitiu esta terça-feira a participação de tropas do país numa força de paz em Gaza e considerou que "os atores principais do genocídio" no território palestiniano têm de ser julgados.
"A paz não pode significar esquecimento, não pode significar impunidade. Há processos abertos no Tribunal Internacional de Justiça. Aquelas pessoas que foram atores principais do genocídio perpetrado em Gaza penso que terão de responder perante a Justiça", disse Sánchez, numa entrevista à rádio espanhola Cadena SER em que lhe perguntaram se o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deveria ser julgado.
Netanyahu é alvo de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional por suspeita de crimes de guerra e contra a humanidade e países como a África do Sul denunciaram Israel por genocídio em Gaza junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ).
Sánchez, que esteve na segunda-feira no Egito para participar na cerimónia de assinatura pelos países mediadores do acordo entre Israel e o grupo islamita Hamas para o cessar-fogo em Gaza, sublinhou esta terça-feira que aquilo que existe neste momento é, precisamente, um cessar-fogo e que é preciso ainda alcançar e garantir a paz na região.
"Abriu-se uma janela de oportunidade", mas é preciso agora definir "um horizonte de passos a dar" para "a consolidação da paz e a solução dos dois Estados [Israel e Palestina]", assim como para a reconstrução de Gaza, após dois anos de guerra, e sem esquecer a Cisjordânia, afirmou.
Para Sánchez, a Europa terá de "desempenhar um papel importante" em todo este processo e admitiu a participação de tropas espanholas numa eventual força internacional de paz em Gaza.
"Se isso vier a acontecer", Espanha "quer estar e quer ter uma presença ativa" não apenas na reconstrução, mas também nesse "horizonte de paz", afirmou, quando questionado sobre a possibilidade da participação de militares espanhóis.
O chefe do Governo espanhol, que reconheceu o Estado da Palestina em maio de 2024 e que foi dos líderes mais críticos com a dimensão da ofensiva israelita em Gaza nos últimos dois anos, defendeu que está em causa uma "questão de coerência" por parte de Espanha e que é preciso "influenciar para que todas as soluções" para o Médio Oriente "respeitem o direito internacional".
“Penso que há muito trabalho pela frente, efetivamente há muitas incógnitas sobre a governança, sobre a sua base no direito internacional”, sublinhou, reconhecendo porém que se abriu uma oportunidade para um "diálogo franco" entre Israel e a Palestina.
O ataque do Hamas em solo israelita de 7 de outubro de 2023 intensificou a guerra em Gaza, que fez mais de 67 mil mortos.
O ataque do Hamas em Israel em 2023 fez cerca de 1200 mortos e duas centenas de pessoas ficaram reféns. Os 20 reféns que continuavam vivos regressaram a Israel na segunda-feira.