No discurso que antecedeu a abertura da 4.ª Conferência Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), em Sevilha, o anfitrião, o primeiro-ministro espanhol, deixou um apelo para que se criem sociedades mais justas
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Da 4.ª Conferência Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), o chefe do Governo de Madrid deseja que saiam compromissos para se construir sociedades mais justas em contexto de conflitos internacionais. Foi isso que fez saber Pedro Sánchez no discurso proferido, este domingo, em Sevilha, pouco antes do jantar de gala oferecido pelos reis aos participantes.
Também pouco antes de ir para a mesa, acompanhado da rainha Letizia, o rei, Felipe VI, defendeu que o mundo precisa de ser “mais estável, pacífico, próspero e sustentável, apesar dos acontecimentos e tendências profundamente preocupantes e assustadoras que ocorrem atualmente em diferentes partes do mundo”, apelando às nações presentes para que reavivem a “confiança abalada na humanidade".
À exceção dos EUA, todos os 193 Estados-membros da ONU têm representantes neste encontro, mas a administração norte-americana alegou discordar de vários aspetos do documento final, ao nível do género, gestão da dívida, comércio internacional e transferência de tecnologia.
A ausência da delegação norte-americana foi anunciada há uma semana, antes do confronto entre Donald Trump e o líder espanhol, Pedro Sánchez, que contrariou as pretensões do presidente dos EUA, ao assumir que o contributo de Espanha para a NATO apenas pode ser de 2,1% do PIB, em vez dos 5% acordados pelos restantes parceiros.
São esperados em Sevilha, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e chefes de Estado ou de Governo europeus, como França, Estónia, Polónia e Portugal, além do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e de outros líderes da América Latina, África e Ásia.
As honras de abertura oficial dos trabalhos será do secretário-geral da ONU, António Guterres, esta segunda-feira, no Palácio de Exposições e Congressos. Este encontro é considerado por muitos como a oportunidade, em tempos turbulentos para as relações internacionais, para governos assumirem o compromisso com o multilateralismo, questionado e atacado por grandes potências, como os Estados Unidos, que cancelou grande parte dos seus programas de ajuda humanitária global, quando ao nível da cooperação contribuía com 42% das doações.
Os EUA não são os únicos a anunciar cortes, também a Alemanha fez saber que pretende redirecionar este tipo de despesas para a Defesa e, não sendo o foco principal do encontro, acabará por marcar a agenda, sendo inevitável a abordagem ao conflito de Gaza, a guerra dos 12 dias entre Israel e o Irão, a intervenção de Washington e a guerra na Ucrânia, uma vez que os principais atores estão na capital da Andaluzia.
No texto do “Compromisso de Sevilha", a declaração já negociada no seio da ONU que deverá ser formalmente adotada agora, lê-se que o objetivo é renovar o quadro do financiamento global ao desenvolvimento, num momento de graves tensões geopolíticas e conflitos e quando estão gravemente atrasadas as metas acordadas pela comunidade internacional na Agenda 2030.
No documento que os líderes de Governo e de Estado de todo o mundo se preparam para assinar em Sevilha, lê-se: ”Estamos a ficar sem tempo para atingir os nossos objetivos e enfrentar os impactos adversos das alterações climáticas e que o fosso entre as nossas aspirações de desenvolvimento sustentável e o financiamento para as concretizar tem continuado a aumentar, particularmente nos países em desenvolvimento."
Pelas contas das Nações Unidas, o défice atual na ajuda ao desenvolvimento é 1500 mil milhões de euros, ou seja, mais do que há dez anos. E, em 2024, a ajuda oficial ao desenvolvimento caiu pela primeira vez nos últimos seis anos, com previsão de nova queda de 20% em 2025.
