Debate a três. Sánchez e Díaz unidos na defesa do Governo e nos ataques a Abascal, sem esquecer Feijóo
O último debate antes das eleições não contou com a presença de Alberto Nuñez Feijóo, que decidiu não participar.
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Antes do cara a cara entre Alberto Nuñez Feijóo (PP) e Pedro Sánchez (PSOE), na semana passada, Yolanda Díaz (Sumar) disse que ali não estava representado o país. "Vai haver um cara a cara entre dois senhores que olham para o passado. É um debate próprio dos anos 90, que não olha para a Espanha do futuro, que quer mais direitos, mais salários, mais tempo para viver... ", disse na altura líder de Sumar.
Criticava desta forma a ausência de debates com todos os candidatos e lamentava não ter oportunidade de debater com Feijóo. Esta terça-feira, no debate com os três outros principais candidatos - Pedro Sánchez, Yolanda Díaz e Santiago Abascal -, foi ela quem levou a batuta e a que mais destacou.
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Procurou o confronto direto com o líder da extrema-direita e não deixou passar nem um dado falso. Com a fórmula a que habituou os espanhóis nos discursos no Congresso dos deputados - "Vou dar-lhe um dado" - rebateu todas as declarações falsas de Santiago Abascal e criticou as suas propostas radicais.
"Sabe quantas mulheres foram assassinadas no nosso país desde 2003, Sr. Abascal? 1212. E a sua política para as mulheres que somos assassinadas, que ganhamos salários menores, que temos menos proteção social, que temos uma brecha nas pensões de 32%, é revogar todas as leis que nos vão dando direitos", acusou.
"Só no ano passado", completou Sánchez, "apresentaram-se 180.000 denúncias por violência de género no nosso país. Você diz que não existem, que são falsas, e o problema é que temos uma direita e uma extrema-direita que negam a violência de género".
Sem nunca baixar a guarda, a vice-presidente do Governo aproveitou a única oportunidade que teve para se enfrentar aos seus adversários em televisão para explicar o seu programa eleitoral, sublinhar os feitos deste governo e tentar colar o ausente PP ao Vox.
"O Sr. Abascal e o Sr. Feijóo que representam exatamente a mesma coisa aqui, querem que uma empregada de limpeza trabalhe até aos 70 anos, querem privatizar as reformas públicas e querem implantar a mochila austríaca no nosso país", disse em referência ao programa dos dois partidos de direita.
Tensão
Os momentos mais tensos aconteceram quando Santiago Abascal acusou o Governo de soltar centenas de violadores e agressores sexuais coma lei de liberdade sexual, conhecida como "lei só sim é sim". Também quando criticou a lei de direitos para os transexuais que levou o líder da extrema-direita a perguntar aos dois opositores o que era uma mulher.
Pedro Sánchez y Yolanda Díaz apresentaram-se como uma equipa: defenderam a gestão do governo, aliaram-se nos ataques à direita e assumiram que, em caso de vitória, voltarão a governar os dois. Díaz quis marcar uma posição mais à esquerda e criticou algumas das medidas do governo por não terem ido mais longe, como a lei da habitação, mas sem nunca se apresentar como uma verdadeira adversária de Sánchez.
As alterações climáticas, grandes protagonistas nesta altura em que os termómetros não param de subir, mas grandes esquecidas do debate público nestas eleições, tiveram honras de abertura do debate.
Uma vez mais o foco estava no Vox. Enquanto a líder de Sumar avisava que Espanha corre "o risco de se transformar num deserto" se nada for feito, Sánchez comparava os líderes do Vox "aos que dizem que a terra é plana", coisa só ao alcance de "fanáticos como Trump, Bolsonaro, ou vocês".
Sánchez, muito mais sereno que no último cara a cara, aproveitou o ultimo debate para defender a ação do seu governo, explicar algumas das decisões mais polémica, como os indultos aos políticos catalães, e apresentar o seu programa.
Ligações perigosas de Feijóo
Na última semana, Yolanda Díaz endureceu o discurso em relação ao líder do PP. E num dos últimos comícios, resgatou uma foto de 1995 onde o líder do PP, aparecia a passar férias com Marcial Dorado, um narcotraficante galego condenado. As fotografias foram publicadas pelo diário El País em 2013 e causaram grande polémica. Feijóo foi chamado a declarar pela Justiça mas o caso nunca avançou apesar de algumas justificações do político serem inverosímeis.
No debate voltou a incidir neste ponto: "Como se sente, Sr. Abascal, ao saber que o seu futuro sócio teve relações com um narcotraficante? Acha que isto é próprio de uma democracia?", perguntou, sem obter resposta.
Como se esperava, Feijóo foi visado várias vezes. Pedro Sánchez acusou-o de não comparecer no debate por não querer lidar "com a montanha de mentiras que disse no cara a cara" e por "ter vergonha de aparecer ao lado do Sr. Abascal".
O líder da extrema-direita aproveitou a ausência de concorrência no espectro ideológico para se assumir como a verdadeira oposição ao Governo. Quis marcar as diferenças com o PP a nível de programa económico e criticou Feijóo por tentar governar sozinho, insistindo num acordo com o PSOE para que governe a lista mais votada.
Sobre as condições para investir o líder do PP em caso de vitória, nem uma palavra.