Sánchez promete "tornar pública" a investigação ao apagão e descarta que culpa seja das renováveis
Não há um prazo para a conclusão da investigação, que terá de analisar 756 milhões de dados
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Pouco mais de uma semana depois do apagão que afetou Espanha e Portugal, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, compareceu no Congresso dos deputados para prestar contas sobre o sucedido. Houve poucas novidades no seu discurso e uma garantia: todas as conclusões serão públicas.
Pedro Sánchez começou por descrever o que já se sabe até agora: o apagão ocorreu depois de três oscilações de energia. A primeira, 19 segundos antes do apagão, que provocou uma perda de energia que o sistema conseguiu neutralizar, as outras duas, no espaço de cinco segundos: uma foi amortecida parcialmente e a última provocou a perda total da energia e o colapso do sistema.
A Comissão Técnica de Análise formada pelo Governo para averiguar o que aconteceu centra-se agora em analisar todos os dados disponíveis para saber se os três eventos estão relacionados entre si e, o mais importante, o que foi que os causou.
“Todos os atores envolvidos no sistema elétrico estão a colaborar para saber o que provocou nessas três oscilações, e determinar se foram fenómenos independentes ou estavam relacionados”, explicou Sánchez. “Tudo o que descobrirmos na comissão técnica de análise vai ser público, com total transparência. Mas o processo vai levar tempo porque para o fazer vai ter que se analisar de forma minuciosa uns 756 milhões de dados que foram os gerados pelas 4200 instalações do sistema”, sublinhou.
A oposição tem centrado a discussão na falta de investimento em centrais nucleares, que, em Espanha, têm data marcada de encerramento até 2035. No Parlamento, Sánchez voltou a sublinhar que “a culpa não é das renováveis”.
“Não há nenhuma evidência empírica que nos diga que o evento foi provocado por um excesso de energias renováveis ou a falta de centrais nucleares em Espanha”, garantiu. “Aliás, convém saber que na segunda-feira, 28 de abril, o nosso sistema elétrico estava a funcionar com níveis de renováveis inferiores às de muitos dias anteriores. Temo que o assunto seja um pouco mais complexo e que vincular este apagão ao debate da energia nuclear na opinião do governo de Espanha não só é irresponsável como é uma gigantesca manipulação”, disse.
O líder espanhol frisou que “não há um estudo sério que diga que as nucleares são imprescindíveis para Espanha”. “Em Espanha, o futuro da energia reside noutras fontes, como a hidroelétrica, a solar, a eólica ou o hidrogénio verde. Isto é o que dizem a maioria de peritos, o que diz a União Europeia, os próprios mercados e os investidores estrangeiros. Este Governo apoia as energias limpas, não por ideologia ou escuros interesses económicos, mas sim porque sabe que o futuro energético de Espanha será verde ou não será”, acrescentou.
Perdas de 415 milhões
O líder espanhol estimou ainda as perdas económicas desse dia em 415 milhões de euros, um número que se recuperou quase de forma total nos dois dias posteriores, devido ao aumento de consumo.
Do lado da oposição, Alberto Núñez Feijóo, líder do Partido Popular, acusou o Governo de ter um “modelo de energia que falhou” e de ter sido obrigado “a mendigar energia nuclear a França”. “Renováveis, sim, claro, e tecnologia de apoio também. Isto é ciência, para uma energia estável, faz falta um mix de modelos: renováveis e nucleares”, disse.
O líder da oposição pediu ainda “uma investigação internacional independente sobre o apagão” e voltou a apontar o dedo ao Governo: “A esta altura, não sei o que é mais grave, que saiba o que aconteceu e esteja a escondê-lo, ou que realmente não faça a menor ideia do que aconteceu.”
Além do comité de análise criado pelo Governo para investigar as causas do apagão, a Audiência Nacional também abriu uma investigação judicial para averiguar se há indícios de sabotagem informática. Recorde-se que a Rede Elétrica de Espanha negou sempre que tenha havido qualquer ciberataque, mas o Governo continua sem descartar nenhuma hipótese.
Notícia atualizada às 11h15
