Sanchéz rejeita eleições antecipadas depois de um caso de corrupção que abala o Governo
O número três do partido, Santos Cerdán, demitiu depois de uma investigação que aponta a um delito de participação em organização criminosa e suborno
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Santos Cerdán, número três do PSOE, homem de confiança de Pedro Sánchez, demitiu esta tarde depois de uma investigação judicial que aponta a que possa ter cometido um delito de corrupção, participação em organização criminosa e suborno. A oposição pede eleições antecipadas, mas Pedro Sánchez já fez saber que a próxima ida às urnas não será antes de 2027.
O escândalo rebentou esta manhã, depois de ter sido levantado o segredo de justiça do caso e de se ter conhecido o relatório da Guardia Civil, que afirma que Santos Cerdán “geriu uma série de comissões”, no valor de mais de 600 mil euros, pagas por empresas em troca de contratos públicos.
O documento faz parte de uma extensa investigação de há mais de um ano, que envolve o ex-ministro dos Transportes, José Luis Ábalos, que já tinha sido afastado do partido, e um dos seus assessores, Koldo García. O relatório, com mais de 400 páginas, estabelece a ligação entre os três e inclui a transcrição de conversas comprometedoras para Cerdán, onde o socialista fala de pagamentos feitos por várias empresas, discrimina quanto ainda falta pagar por cada uma e faz a distribuição do dinheiro entre os três políticos.
O documento é de tal forma explícito que Santos Cerdán demitiu em poucas horas e Pedro Sánchez compareceu, pouco tempo depois, na sede do PSOE, para pedir desculpas à cidadania. “Quero pedir desculpa a toda a cidadania porque até esta mesma manhã estava convencido da integridade de Santos Cerdán. Os indícios contra ele são muito graves, nunca deveríamos ter confiado nele”, começou por dizer.
Apesar da pressão da oposição para uma convocatória eleitoral antecipada, Pedro Sánchez descartou esse cenário. “Não se trata de mim, nem do Partido Socialista, nem dos deputados e deputadas do grupo parlamentar socialista exclusivamente. Trata-se de um projeto político que está a fazer coisas boas pelo nosso país”, afirmou.
O primeiro-ministro anunciou ainda “uma auditoria externa às contas do Partido Socialista” para averiguar se houve qualquer tipo de financiamento irregular e uma reestruturação da comissão executiva federal do PSOE.
Segundo o auto do Tribunal Supremo, “há fortes indícios” de que Cerdán tenha participado numa rede de adjudicações irregulares de contratos públicos e, por isso, e pela sua condição de deputado, que lhe oferece imunidade parlamentar, ofereceu-lhe a possibilidade de prestar depoimento de forma voluntária dia 25 de junho.
No comunicado onde anuncia a sua demissão de todos os cargos no partido – e também do cargo de deputado no Congresso – Santos Cerdán diz também que irá prestar depoimento e que, depois dessa declaração, ficará demonstrada a sua inocência.
Pedro Sánchez disse que Cerdán lhe deu explicações sobre o sucedido, mas que não lhe cabe a ele julgar essas explicações, “mas sim à justiça”.
Oposição pressiona
Santos Cerdán fazia parte do núcleo de confiança de Pedro Sánchez desde 2014 e foi o responsável da negociação do acordo desta legislatura com o Junts x Catalunya, o partido de Carlos Puigdemont, cujos votos foram essenciais para a investidura de Sánchez.
Para a oposição, as explicações de Pedro Sánchez são “insuficientes”. O líder do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo, considera que “Sánchez não pode sobreviver” depois deste caso. “Foi Sánchez quem os nomeou e manteve a sua confiança mesmo quando já havia indícios substanciais sobre a sua conduta”, insistiu Feijóo.
O partido de extrema-direita, Vox, já pediu uma moção de censura ao PP, mas os populares rejeitam dar esse passo, uma vez que não têm os apoios suficientes. Os sócios do Governo, apesar de terem exigido explicações contundentes sobre o caso, rejeitam, para já, qualquer atitude que faça cair o Executivo.
