As mulheres turcas inundaram hoje as redes sociais com fotografias de sapatos, para apoiar uma deputada da oposição, num novo episódio de acusações de sexismo à maioria islâmica conservadora no poder na Turquia.
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Num discurso proferido na terça-feira no parlamento, uma deputada do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), Aylin Nazliaka, atacou violentamente os seus colegas do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no poder, quanto à questão da discriminação das mulheres, ameaçando mesmo atirar-lhes um dos seus sapatos.
«Juro perante Deus, o diabo em mim está a mandar-me tirar um dos meus sapatos e atirar-vo-lo. Mas quando olho para eles, os meus sapatos, e para vocês, penso que realmente vocês não valem a pena», disse a deputada aos seus opositores.
No mundo muçulmano, atirar um sapato a alguém ou simplesmente mostrar-lhe a respetiva sola é considerado um dos piores insultos.
Inspiradas por esta cena inflamada, muitas mulheres turcas pegaram hoje no mote, publicando na rede social Twitter fotos dos seus sapatos, com a palavra-chave #geliyorterlik (a chegada da chinela).
«A minha chinela está a chegar e ela pode fazer tantos estragos quanto uma matraca da polícia», escreveu uma destas mulheres na sua conta, @blenderella.
Esta nova campanha surge depois de uma outra polémica sobre o tema, desencadeada por afirmações do vice-primeiro-ministro Bülent Arinç, que recomendou às mulheres que não se rissem alto em público, em nome de uma necessária «decência».
Desde a sua chegada ao poder, em 2003, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, eleito no domingo Presidente por cinco anos, é regularmente acusado de querer "islamizar" o país e, nomeadamente, de querer limitar os direitos das mulheres.
Na terça-feira, durante um debate sobre uma proposta de lei sobre violência conjugal, a deputada Nazliaka repetiu as mesmas acusações e criticou os seus adversários do AKP por favorecerem a violência conjugal «com as medidas impõem às mulheres».
A deputada do CHP acusou-os também de quererem controlar «o que as mulheres vestem, o que elas consomem e mesmo a cor do seu batom». O seu texto foi rejeitado pelo parlamento, onde o AKP dispõe de maioria absoluta.